Depois de 12 milênios, a decadência do Império já está certa: em três séculos, “Destruição total!”. A psico-história, com seus cálculos e inúmeras variáveis, conseguiu prever que a única solução para a inevitável era de caos e barbárie seria registrar todo o conhecimento acumulado até então em uma grande e completa Enciclopédia. Para fazer este trabalho, Hari Seldon, o mais respeitado, temido e procurado psico-historiador, reuniu cem mil pessoas que devem se mudar para Terminus, um planeta na periferia da galáxia, onde o Império mal toca, mas também não se esforça para chegar onde outros planetas ainda existem com métodos rudimentares de geração de energia.
O pano de fundo está dado. Com cinco partes e pouco mais de 200 páginas, o primeiro volume da clássica trilogia (ou septologia, se é que essa palavra existe), Asimov conduz o leitor por uma série de crises e conflitos políticos que muito lembram outro clássico, Star Wars, de George Lucas. Este, contudo, da década de 1970 e os três primeiros títulos da obra de Asimov, da década de 1940.
Essas semelhanças, entre a saga dos Jedi e da Fundação, fica mais evidente ainda na nota à edição brasileira, da Aleph, que dá o tom da leitura. Inspirada “pelo clássico ‘A história do declínio e queda do Império Romano, do historiador inglês Edward Gibbon” e “O autor fez questão de utilizar algumas doutrinas polêmicas para basear seu futuro militarista, como o Destino Manifesto americano […] e o nazismo alemão”. Fiquei Com o box da trilogia de Asimov durante dois anos maturando na estante. Depois de uma leitura decepcionante, de outro título e outro autor, e de ouvir elogios gigantes à obra do maior autor russo de ficção científica de todos os tempos, resolvi encarar a leitura. O primeiro volume só deu um cheiro do que ainda está por vir nos demais títulos da série. Agora não vejo a hora de pegar o próximo para continuar acompanhando essa história sensacional.
“O Império prometido”
O que acontece com o “povo prometido” depois que recebe sua promessa? Descobrimos que somos a capital de um futuro império que dominará toda a galáxia. Porém, estamos séculos de distância desta concretização. Como você acha que os dirigentes desse povo se comportaria? Trabalhariam com afinco para garantir que o futuro seja mesmo tão glorioso como Hari Seldon previu com sua psico-história?
No segundo volume da trilogia Fundação, “Fundação e Império”, a temática é o comodismo (ou isso seria no terceiro?). Com a “terra prometida” garantida por uma previsão do passado, os governantes de Terminus deixaram o espírito de progresso no passado – no mesmo passado onde ficaram as aparições de Seldon. O problema é que a galáxia não para tomar um suco enquanto os séculos passam para o tão esperado momento chegar.
A leitura de “Fundação” e suas duas continuações, é muito empolgante. No primeiro volume já observamos o tempo passando de forma corrida e a quantidade de personagens aumenta a cada página. No segundo é ligeiramente diferente. Começamos a leitura alguns séculos depois da primeira parte e o cenário já está muito diferente daquele que acompanhamos. Uma ameaça não prevista nos cálculos da psico-história surge e a motivação deste volume é combatê-la e encontrar informações de uma segunda Fundação.
“Um círculo não tem fim”
É possível dizer que o presente estava em “Fundação”; o futuro “garantido”, nas cabeças dos governantes de “Fundação e Império”, pelo menos até serem ameaçados por uma variável de fora da equação geral; e o passado marca o terceiro volume da trilogia, “Segunda Fundação”.
Ao concluir a leitura da trilogia, essa foi impressão geral que fiquei. No primeiro volume conhecemos a concepção da Fundação; no segundo, o futuro estava garantido, mas um mutante ameaça a estabilidade e o “império prometido”; já no terceiro, os olhos se voltam para o momento no qual Hari Seldon fez seus cálculos, previu toda a catástrofe inevitável que se aproximava e criou duas fundações – não uma, como estava claro até a metade do segundo volume, mas duas. Eis que encontrar a localização deste segundo grupo de Seldon se transforma na temática do fim da trilogia.
Como os demais, a leitura deste volume é fluida e empolgante. Ouso dizer que é até mais empolgante, misteriosa e com muito mais plot twists (reviravoltas) que a anterior – principalmente nas últimas páginas!!!!! Aqui a continuidade entre o segundo e o terceiro volume se dá pelos personagens. Com o desenrolar dos desafios daquela parte da história, outros personagens entram em cena alguns anos depois. Porém, não são quaisquer personagens e que não vieram de qualquer lugar. A protagonista desta vez é uma menina com cerca de 15 anos e muita coragem, inteligência e perspicácia. Planetas diferentes se conversam, uma guerra se desenrola e no fim sabemos que “um círculo não tem fim”.
Quando terminei a leitura me deu vontade de: ou começar tudo mais uma vez ou sair correndo para comprar os outros quatro títulos que dão continuidade à história – Asimov os escreveu na década de 1980, cerca de 40 anos depois da trilogia original. Não fiz nem uma coisa e nem outra: contive meus impulsos para tentar encontrar esses títulos na próxima Festa do Livro da USP. Até lá, a lembrança de uma leitura muito empolgante vai ficar martelando que a história ainda não teve e provavelmente nem terá fim.
ASIMOV, Isaac. Fundação; Fundação e Império; Segunda Fundação. Tradução de Fábio Fernandes. São Paulo: Aleph, 2009