CALDAS, Suely. Jornalismo
econômico. São Paulo: Contexto, 2008.
econômico. São Paulo: Contexto, 2008.
A história
O jornalismo econômico tem a mesma idade da imprensa. Não há
registro de um jornal sem notícias de fatos econômicos. 11
registro de um jornal sem notícias de fatos econômicos. 11
O jornalismo econômico não nasceu com a ditadura militar de
1964, como afirmam alguns. Embora tenha sido naquele período, como veremos
adiante, que ele realmente passou a ganhar relevo, importância, prestígio,
forma, organização e, dentro da estrutura das redações, um editoria própria. 11
1964, como afirmam alguns. Embora tenha sido naquele período, como veremos
adiante, que ele realmente passou a ganhar relevo, importância, prestígio,
forma, organização e, dentro da estrutura das redações, um editoria própria. 11
No final do século XIX e início do século XX, os jornais
brasileiros já traziam colunas fixas e diárias com temas exclusivamente
econômicos. 11
brasileiros já traziam colunas fixas e diárias com temas exclusivamente
econômicos. 11
O Estado de S.Paulo, 1920, coluna fixa de Cincinato Braga
chamada “Magnos problemas econômicos”;
chamada “Magnos problemas econômicos”;
Austragésilo de Athayde tinha coluna nO Jornal com
comentários sobre o mercado do café;
comentários sobre o mercado do café;
Nos primeiros anos do século XX os jornais passaram a
publicar (o que fazem até hoje) seções
de mercados, em página inteira, com informações sobre cotação de
abertura e fechamento dos mercados dos principais produtos agrícolas, do ouro e
da prata, por exemplo. 12
publicar (o que fazem até hoje) seções
de mercados, em página inteira, com informações sobre cotação de
abertura e fechamento dos mercados dos principais produtos agrícolas, do ouro e
da prata, por exemplo. 12
1943, Getúlio Vargas inaugura a Cia. Siderúrgica Nacional
(CSN); tempos de pesada censura à imprensa, por não ceder à censura, o Estado
de S. Paulo sofreu intervenção durante cinco anos. Quando o jornal voltou a
circular livremente, contrataram Frederico Heller e Roberto Appy para
comentarem economia.
(CSN); tempos de pesada censura à imprensa, por não ceder à censura, o Estado
de S. Paulo sofreu intervenção durante cinco anos. Quando o jornal voltou a
circular livremente, contrataram Frederico Heller e Roberto Appy para
comentarem economia.
1950, segundo governo Vargas, criou Vale do Rio Doce e
Petrobrás. “as notícias econômicas também prosperaram, embora ainda fossem
publicadas de forma dispersa, em páginas diferentes, sem organização.” 12
Petrobrás. “as notícias econômicas também prosperaram, embora ainda fossem
publicadas de forma dispersa, em páginas diferentes, sem organização.” 12
“O jornalismo econômico floresceu e só ocupou espaço próprio
à época da ditadura militar de 1964.” 13
à época da ditadura militar de 1964.” 13
Assim, as páginas de política emagreciam na mesma proporção
em que as de economia engordavam, indiretamente incentivadas pelos generais,
ávidos em divulgar feitos do ‘milagre econômico’ e da queda da inflação. 13
em que as de economia engordavam, indiretamente incentivadas pelos generais,
ávidos em divulgar feitos do ‘milagre econômico’ e da queda da inflação. 13
1972 – Aloísio Biondi, Jornal do Commercio, caderno especial
de crítica à política econômica do ministro da Fazenda, Delfim Neto. Foi
censurado;
de crítica à política econômica do ministro da Fazenda, Delfim Neto. Foi
censurado;
1967 – ministro Delfim Neto queria indicar um amigo à
presidência do Banco Central. “manipulada por Delfim, a imprensa começou a
publicar suspeitas de que os integrantes da equipe econômica do general
Castello Branco (…) teriam tirado proveito pessoal de uma desvalorização
cambial” (p 16). Houve instauração de CPI. A manipulação só foi revelada em
1993.
presidência do Banco Central. “manipulada por Delfim, a imprensa começou a
publicar suspeitas de que os integrantes da equipe econômica do general
Castello Branco (…) teriam tirado proveito pessoal de uma desvalorização
cambial” (p 16). Houve instauração de CPI. A manipulação só foi revelada em
1993.
Com o fim da ditadura e a conquista de um regime
democrático, manobras, manipulações, falsificações de índices de inflação
tornaram-se impossíveis de acontecer, pois sempre haverá uma instituição a
denunciar, o cidadão a protestar, a imprensa livre a publicar. 17
democrático, manobras, manipulações, falsificações de índices de inflação
tornaram-se impossíveis de acontecer, pois sempre haverá uma instituição a
denunciar, o cidadão a protestar, a imprensa livre a publicar. 17
A partir da década de 1960, os jornais organizaram suas
editorias de economia, atraindo melhores – e mais bem pagos – profissionais do
ramo. Como aquela era a editoria que mais crescia e ganhava espaço, o trabalho
de apuração das informações passou a ser segmentado por setores econômicos
específicos. E assim nasceu a especialização. 17
editorias de economia, atraindo melhores – e mais bem pagos – profissionais do
ramo. Como aquela era a editoria que mais crescia e ganhava espaço, o trabalho
de apuração das informações passou a ser segmentado por setores econômicos
específicos. E assim nasceu a especialização. 17
A especialização crescente teve o mérito de preparar e
qualificar os jornalistas, que passaram a conhecer e entender melhor os
mecanismos internos dos diversos setores econômicos. 18
qualificar os jornalistas, que passaram a conhecer e entender melhor os
mecanismos internos dos diversos setores econômicos. 18
Na época da censura, a editoria de economia investiu no
“segmento de economia popular” (p. 19). Eram pautas diárias a Superintendência
Nacional de Abastecimento (Sunab) e o Conselho Interministerial de Preços
(CIP), assuntos ganharam o gosto dos leitores.
“segmento de economia popular” (p. 19). Eram pautas diárias a Superintendência
Nacional de Abastecimento (Sunab) e o Conselho Interministerial de Preços
(CIP), assuntos ganharam o gosto dos leitores.
“Hoje, é verdade, a imprensa dá pouco espaço para a economia
popular. Só O Globo e o Estadão mantêm páginas específicas, na
editoria de economia, com o título “Defesa do consumidor”, onde o leitor
encontra informações e serviços de interesse popular, inclusive queixas contra
produtos, empresas e denúncias feitas à Superintendência de Proteção e Defesa
do Consumidor (Procon)” 19
popular. Só O Globo e o Estadão mantêm páginas específicas, na
editoria de economia, com o título “Defesa do consumidor”, onde o leitor
encontra informações e serviços de interesse popular, inclusive queixas contra
produtos, empresas e denúncias feitas à Superintendência de Proteção e Defesa
do Consumidor (Procon)” 19
Num primeiro momento, segunda metade dos anos 60, a Abril
criou as chamadas revistas técnicas, segmentadas por setores da economia e
dirigidas às empresas e ao mundo de negócios que girava em torno deles. Química e derivados, Plásticos e embalagens,
Máquinas e metais e Transportes
Modernos foram experiências de sucesso, puxadas pela diversificação da
economia industrial. O curioso é que Exame,
até hoje a principal revista de economia do páis, nasceu como simples encarte
delas, em 1967. O filhote cresceu e virou maior do que o quarteto que o gerou.
20
criou as chamadas revistas técnicas, segmentadas por setores da economia e
dirigidas às empresas e ao mundo de negócios que girava em torno deles. Química e derivados, Plásticos e embalagens,
Máquinas e metais e Transportes
Modernos foram experiências de sucesso, puxadas pela diversificação da
economia industrial. O curioso é que Exame,
até hoje a principal revista de economia do páis, nasceu como simples encarte
delas, em 1967. O filhote cresceu e virou maior do que o quarteto que o gerou.
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O mesmo fenômeno de valorização do jornalismo econômico
aconteceu com a televisão e pelos mesmos motivos. “Porque entrava em lares de
milhares de famílias, o noticiário da tevê era vigiado com lupa pelos
militares.” (p. 20) Para atingir a grande massa e fugir do economês, foi frente
à esta necessidade que Joelmir Beting saiu da cobertura de esportes para a de
economia. “A preocupação de Joelmir Beting com a explicação didática dos
assuntos tratados e a popularidade de seu programa lhe valeram o apelido de
‘Chacrinha da Economia’” (p. 21)
aconteceu com a televisão e pelos mesmos motivos. “Porque entrava em lares de
milhares de famílias, o noticiário da tevê era vigiado com lupa pelos
militares.” (p. 20) Para atingir a grande massa e fugir do economês, foi frente
à esta necessidade que Joelmir Beting saiu da cobertura de esportes para a de
economia. “A preocupação de Joelmir Beting com a explicação didática dos
assuntos tratados e a popularidade de seu programa lhe valeram o apelido de
‘Chacrinha da Economia’” (p. 21)
“’Não apenas a linguagem, os assuntos abordados também têm
que ser diferentes na tevê, no rádio e no jornal. São três áreas bem distintas.
No jornal, o texto é mais livre, o espaço maior e a diversidade de temas
também. No rádio, a linguagem é coloquial, você conversa com o ouvinte. Na
televisão, o público é passivo e muda de canal se o assunto é chato, pesado.
Você tem trinta segundos para explicar por que os juros não baixaram e que
implicações isto tem na vida das pessoas. Tive brigas infernais com a Globo por
um minuto de tempo’, conta Joelmir Betting” (p. 22)[AC1]
que ser diferentes na tevê, no rádio e no jornal. São três áreas bem distintas.
No jornal, o texto é mais livre, o espaço maior e a diversidade de temas
também. No rádio, a linguagem é coloquial, você conversa com o ouvinte. Na
televisão, o público é passivo e muda de canal se o assunto é chato, pesado.
Você tem trinta segundos para explicar por que os juros não baixaram e que
implicações isto tem na vida das pessoas. Tive brigas infernais com a Globo por
um minuto de tempo’, conta Joelmir Betting” (p. 22)[AC1]
“’Os comentários eram mais didáticos do que são hoje. Havia
preocupação especial em levar para o homem comum uma linguagem muito simples,
assuntos de seu universo e explicados com um didatismo quase de professor. Como
o público era desinformado sobre economia, muitas vezes o comentário ficava só
na explicação, não havia tempo para passar disso’, lembra Marco Antonio Rocha”
(p. 23)
preocupação especial em levar para o homem comum uma linguagem muito simples,
assuntos de seu universo e explicados com um didatismo quase de professor. Como
o público era desinformado sobre economia, muitas vezes o comentário ficava só
na explicação, não havia tempo para passar disso’, lembra Marco Antonio Rocha”
(p. 23)
Prestar serviços, explicar o reajuste da caderneta de
poupança, o rendimento das ações da Petrobrás, atraor a atenção do público pelo
seu interesse individual foi a saída encontrada pelas emissoras de tevê para
enfrentar as limitações impostas pelo regime militar. 23
poupança, o rendimento das ações da Petrobrás, atraor a atenção do público pelo
seu interesse individual foi a saída encontrada pelas emissoras de tevê para
enfrentar as limitações impostas pelo regime militar. 23
Abolida a censura, hoje o jornalismo econômico na tevê é
menos preocupado com a explicação didática e em prestar serviços, sendo mais
focado na conjuntura, nos efeitos das sucessivas crises econômicas dos últimos
quinze anos, crises que afetam a vida das pessoas indistintamente, sejam pobres
ou ricos. Mesmo os noticiários de horário nobre, de maior audiência, trazem
assuntos econômicos relevantes, sem a preocupação obsessiva com o didatismo de
Marco Antonio e Joelmir. 24
menos preocupado com a explicação didática e em prestar serviços, sendo mais
focado na conjuntura, nos efeitos das sucessivas crises econômicas dos últimos
quinze anos, crises que afetam a vida das pessoas indistintamente, sejam pobres
ou ricos. Mesmo os noticiários de horário nobre, de maior audiência, trazem
assuntos econômicos relevantes, sem a preocupação obsessiva com o didatismo de
Marco Antonio e Joelmir. 24
Seja em economia, política ou sociedade, não há coluna de
notas que não traga uma intriga, que não seja alvo de algum interesse, que não
passe algum recado, que não tome partido de alguém. (…) Mas é o próprio
formato da coluna, o superficialismo das notas obrigatórias e diárias, que
criam situações de cumplicidade com as fontes de informação. 25
notas que não traga uma intriga, que não seja alvo de algum interesse, que não
passe algum recado, que não tome partido de alguém. (…) Mas é o próprio
formato da coluna, o superficialismo das notas obrigatórias e diárias, que
criam situações de cumplicidade com as fontes de informação. 25
Com a evolução da democracia, aumentou gradativamente o
espaço de artigos de especialistas de fora do jornal. Mais ousados e
independentes no comentários sobre as ações do governo, os edioriais também
ganharam espaço maior. 26
espaço de artigos de especialistas de fora do jornal. Mais ousados e
independentes no comentários sobre as ações do governo, os edioriais também
ganharam espaço maior. 26
Com raríssimas exceções, até o final dos anos 50 não havia
imprensa independente no Braisl. Todos os jornais e revistas eram ligados ao
poder público e dele dependiam financeiramente. 27
imprensa independente no Braisl. Todos os jornais e revistas eram ligados ao
poder público e dele dependiam financeiramente. 27
Hoje a dependência financeira ainda existe em regiões do
país onde jornais, rádios e emissoras de tevê pertencem a caciques políticos
locais (…) ou são ligados a uma determinada facção político-partidária. Nos
grandes centros urbanos, onde o leitor é mais politizad, isso é cada vez mais
difícil. 28
país onde jornais, rádios e emissoras de tevê pertencem a caciques políticos
locais (…) ou são ligados a uma determinada facção político-partidária. Nos
grandes centros urbanos, onde o leitor é mais politizad, isso é cada vez mais
difícil. 28