KUCINSKI, Bernardo. Jornalismo econômico. 3 ed. rev. São
Paulo: Editora da Universidade Estadual de São Paulo, 2007
Paulo: Editora da Universidade Estadual de São Paulo, 2007
INTRODUÇÃO
A desordem monetária, que desde
1972 vem destruindo moedas nacionais e solapando a cultura do dólar, fez da
economia o núcleo temático do noticiário jornalístico deste final de século,
deslocando conflitos políticos para um segundo plano. 14
1972 vem destruindo moedas nacionais e solapando a cultura do dólar, fez da
economia o núcleo temático do noticiário jornalístico deste final de século,
deslocando conflitos políticos para um segundo plano. 14
Para as elites, o cenário de
alto risco deu ainda mais relevância ao noticiário econômico na tomada de
decisões. 14
alto risco deu ainda mais relevância ao noticiário econômico na tomada de
decisões. 14
Com tudo isso, uma grave
disfunção afeta o jornalismo dedicado à economia. A maioria dos leitores e dos
telespectadores, mesmo os instruídos, como os estudantes universitários, não
consegue decodificar o noticiário econômico. Para o grande público, a economia
adquiriu, ao mesmo tempo, significados elementares, ligados ao seu dia-a-dia, e
outros abstratos, de difícil compreensão. 14
disfunção afeta o jornalismo dedicado à economia. A maioria dos leitores e dos
telespectadores, mesmo os instruídos, como os estudantes universitários, não
consegue decodificar o noticiário econômico. Para o grande público, a economia
adquiriu, ao mesmo tempo, significados elementares, ligados ao seu dia-a-dia, e
outros abstratos, de difícil compreensão. 14
Foi decisivo o jornalismo como
linha auxiliar na campanha neoliberal dos anos 90 pelo desmonte do Estado
social-democrata, na sedução dos jovens ao ideal do sucesso pessoal, na
disseminação da nova utopia das classes médias: a de possuir o próprio negócio.
O jornalismo econômico, veículo por excelência dessa nova ideologia, tornou-se
o principal agendador do debate político. Assim, a disfunção de sua linguagem
talvez tenha uma função ideológica. Um jornalismo que não se propõe a explicar
e sim a seduzir. 14
linha auxiliar na campanha neoliberal dos anos 90 pelo desmonte do Estado
social-democrata, na sedução dos jovens ao ideal do sucesso pessoal, na
disseminação da nova utopia das classes médias: a de possuir o próprio negócio.
O jornalismo econômico, veículo por excelência dessa nova ideologia, tornou-se
o principal agendador do debate político. Assim, a disfunção de sua linguagem
talvez tenha uma função ideológica. Um jornalismo que não se propõe a explicar
e sim a seduzir. 14
O espaço dos jornalistas
dedicados à economia permanece confinado, dificultando a formação de uma nova
linguagem, apropriada à apresentação e à análise da questão econômica para um
grande público. 15
dedicados à economia permanece confinado, dificultando a formação de uma nova
linguagem, apropriada à apresentação e à análise da questão econômica para um
grande público. 15
No Brasil, essa disfunção foi
acentuada pelas deficiências na formação tanto de jornalsitas como de leitores,
pelos obstáculos à prática do jornalismo e pelo número reduzido de publicações
voltadas à macroeconomia e à economia política. 15
acentuada pelas deficiências na formação tanto de jornalsitas como de leitores,
pelos obstáculos à prática do jornalismo e pelo número reduzido de publicações
voltadas à macroeconomia e à economia política. 15
PESQUISAR: revistas Visão e Banas, surgidas no bojo da industrialização dos anos 50; e Fator, surgida no bojo da crise dos anos
60.
60.
Motivadores do crescimento do
jornalismo de serviço: alta do petróleo, greve operárias, recessão dos anos 80,
altas dos preços. “A inflação alimenta o jornalismo de serviços voltado aos
problemas econômicos e financeiros de seus leitores de classe média, tais como
prestações da casa própria, aplicações em poupança, impostos e taxas escolares,
custo de vida e defesa do consumidor” (p. 16)
jornalismo de serviço: alta do petróleo, greve operárias, recessão dos anos 80,
altas dos preços. “A inflação alimenta o jornalismo de serviços voltado aos
problemas econômicos e financeiros de seus leitores de classe média, tais como
prestações da casa própria, aplicações em poupança, impostos e taxas escolares,
custo de vida e defesa do consumidor” (p. 16)
O jornalismo de serviço é ao
mesmo tempo didático e voltado a uma cidadania econômica. Com os repetidos
pacotes econômicos, tornou-se vital no cotidiano das pessoas. 16
mesmo tempo didático e voltado a uma cidadania econômica. Com os repetidos
pacotes econômicos, tornou-se vital no cotidiano das pessoas. 16
Entre 1968 e 1988 o espaço da
economia nos jornais cresceu de 1,5 páginas para 6,5. 1/5 das manchetes foi de
economia.
economia nos jornais cresceu de 1,5 páginas para 6,5. 1/5 das manchetes foi de
economia.
Como práxis, ou prática consciente e autocrítica, o jornalismo
brasileiro voltado à economia se ressente da pouca autonomia ideológica do
jornalista em relação às classes proprietárias na abordagem dos grandes temas
da agenda político econômica. O predomínio da ideologia neoliberal [AC1] levou
a uma ideologização da cobertura macroeconômica, simultaneamente a uma expansão
do jornalismo de negócios. 16
brasileiro voltado à economia se ressente da pouca autonomia ideológica do
jornalista em relação às classes proprietárias na abordagem dos grandes temas
da agenda político econômica. O predomínio da ideologia neoliberal [AC1] levou
a uma ideologização da cobertura macroeconômica, simultaneamente a uma expansão
do jornalismo de negócios. 16
DIÁRIOS
Gazeta
Mercantil
Mercantil
Valor Econômico
Jornal do
Comércio (Recife)
Comércio (Recife)
Diário do
Comércio e Indústria (SP)
Comércio e Indústria (SP)
Diário do
Comércio (SP)
Comércio (SP)
Jornal do
Comércio, de 1827(RJ)
Comércio, de 1827(RJ)
Monitor
Mercantil (RJ)
Mercantil (RJ)
Jornal do
Comércio (Porto Alegre)
Comércio (Porto Alegre)
Diário do
Comércio (Belo Horizonte)
Comércio (Belo Horizonte)
Indústria e
Comércio (Curitiba)
Comércio (Curitiba)
REVISTAS
Exame
Agroanalysus
(RJ)
(RJ)
Amanhã (Porto
Alegre)
Alegre)
Empreendedor
(Curitiba)
(Curitiba)
Expressão
(Florianópolis)
(Florianópolis)
Modernidade
(SP)
(SP)
Banco Hoje
(RJ)
(RJ)
Pequenas
Empresas, Grande Negócios
Empresas, Grande Negócios
Franchising
Globo Rural
Revista
Mercosul (RJ)
Mercosul (RJ)
ANUÁRIOS DE ECONOMIA
Balanço Anual
da Gazeta Mercantil
da Gazeta Mercantil
Maiores e
Melhores da Exame
Melhores da Exame
NEWSLETTER
Dinheiro Vivo
Análise (SP)
Relatório
Reservado (RJ)
Reservado (RJ)
Investidor
Profissional (RJ)
Profissional (RJ)
Informe
Financeiro (RJ)
Financeiro (RJ)
Weekly
Edition da Gazeta Mercantil
Edition da Gazeta Mercantil
SERVIÇOS ON LINE
Broadcast
(Estadão)
(Estadão)
Investinews (Gazeta
Mercantil)
Mercantil)
Fax (Dinheiro
Vivo)
Vivo)
1. O SABER E O CONHECIMENTO NO JORNALISMO
ECONÔMICO
ECONÔMICO
Acima de nosso saber
apriorístico e nossos juízos de valor, tão importantes para o jornalista, a
verdade jornalística a ser trabalhada e transmitida em cada momento é sempre a verdade contingente, que decorre da verdade dos fatos, de cada nova
observação e não de uma crença. 21
apriorístico e nossos juízos de valor, tão importantes para o jornalista, a
verdade jornalística a ser trabalhada e transmitida em cada momento é sempre a verdade contingente, que decorre da verdade dos fatos, de cada nova
observação e não de uma crença. 21
Um dos problemas centrais do
jornalista dedicado à economia é a precariedade das teorias econômicas,
divididas em grande número de escolas de pensamento, cada qual com seus
axiomas, manejados como instrumentos de persuasão ideológica e a maioria delas
cada vez mais distante do objeto central das ciências humanas, o próprio homem.
O jornalistas se move nesse caldo de cultura e, se desconhece as sutilezas das
relações econômicas, tende a fazer ilações simplistas e tirar conclusões sem fundamento
nos fatos ou na razão. 22
jornalista dedicado à economia é a precariedade das teorias econômicas,
divididas em grande número de escolas de pensamento, cada qual com seus
axiomas, manejados como instrumentos de persuasão ideológica e a maioria delas
cada vez mais distante do objeto central das ciências humanas, o próprio homem.
O jornalistas se move nesse caldo de cultura e, se desconhece as sutilezas das
relações econômicas, tende a fazer ilações simplistas e tirar conclusões sem fundamento
nos fatos ou na razão. 22
A falta de conhecimento do
jornalista impede tanto a exposição coerente de suas ideias, como a filtragem
crítica das premissas falsas, frequentemente usadas pelos agentes econômicos no
debate da economia. 22
jornalista impede tanto a exposição coerente de suas ideias, como a filtragem
crítica das premissas falsas, frequentemente usadas pelos agentes econômicos no
debate da economia. 22
Predomina o minimalismo da
informação e do conhecimento, uma deficiência informacional que se manifesta na
precariedade e na baixa confiabilidade das estatísticas e que contribui para a baixa qualidade das decisões da política
econômica e do padrão do jornalismo econômico no Brasil. 22
informação e do conhecimento, uma deficiência informacional que se manifesta na
precariedade e na baixa confiabilidade das estatísticas e que contribui para a baixa qualidade das decisões da política
econômica e do padrão do jornalismo econômico no Brasil. 22
Críticas de Kucinski sobre a
falta de informação: falta de dados do IBGE desde 1985; não tem estatísticas de
formação de estoques, formação de K fixo e distribuição de renda; dados sobre
escolaridade e analfabetismo ultrapassados há anos; falta de estatísticas
confiáveis de emprego e desemprego; não se divulga gastos com royalties e
patentes;
falta de informação: falta de dados do IBGE desde 1985; não tem estatísticas de
formação de estoques, formação de K fixo e distribuição de renda; dados sobre
escolaridade e analfabetismo ultrapassados há anos; falta de estatísticas
confiáveis de emprego e desemprego; não se divulga gastos com royalties e
patentes;
“Vivemos em parte uma ilusão
estatística, agravada ainda mais pelo crescimento da economia informal” 23
estatística, agravada ainda mais pelo crescimento da economia informal” 23
As novas gerações de jornalistas
ressentem-se também da deficiência dos currículos dos cursos de jornalismo, que
não trazem aporte substantivo de conhecimento sobre economia, história,
sociologia, filosofia e política. 23
ressentem-se também da deficiência dos currículos dos cursos de jornalismo, que
não trazem aporte substantivo de conhecimento sobre economia, história,
sociologia, filosofia e política. 23
Na cobertura das políticas de
governo e dos problemas macroeconômicos, é essencial o conhecimento das
relações mais importantes entre as variáveis econômicas, assim como sua ligação
com os âmbitos político e social. 23
governo e dos problemas macroeconômicos, é essencial o conhecimento das
relações mais importantes entre as variáveis econômicas, assim como sua ligação
com os âmbitos político e social. 23
O jornalismo de serviços combina
níveis elementares de informação, quando trata de mercadorias e serviços, e
níveis complexos, quando trata dos investimentos financeiros da classe média.
24
níveis elementares de informação, quando trata de mercadorias e serviços, e
níveis complexos, quando trata dos investimentos financeiros da classe média.
24
No debate econômico, abusa-se
das falácias, argumentos com premissas aparentemente corretas, mas cujas
conclusões são falsas. A mais frequente é a falácia
estatística. Quase tudo pode ser provado em economia, manipulando-se
estatísticas. 24
das falácias, argumentos com premissas aparentemente corretas, mas cujas
conclusões são falsas. A mais frequente é a falácia
estatística. Quase tudo pode ser provado em economia, manipulando-se
estatísticas. 24
Outro típico argumento falho é o
que inclui uma ou mais premissas falsas,
montado em geral com objetivos ideológicos. 25
que inclui uma ou mais premissas falsas,
montado em geral com objetivos ideológicos. 25
Frequentemente, jornalistas e
economistas formulam leis gerais, e portanto relações de causalidade, com base
em observações singulares. O que é um risco metodológico. Observações
singulares não garantem a validade de uma lei geral. (…) Para escapar das
falsas relações de causalidade, ou da formulação de leis inválidas, o
jornalista deve evitar generalizações e tomar cuidado com a validade de suas
premissas. 25 – 26
economistas formulam leis gerais, e portanto relações de causalidade, com base
em observações singulares. O que é um risco metodológico. Observações
singulares não garantem a validade de uma lei geral. (…) Para escapar das
falsas relações de causalidade, ou da formulação de leis inválidas, o
jornalista deve evitar generalizações e tomar cuidado com a validade de suas
premissas. 25 – 26
Com frequência, o jornalista
erra por confusão conceitual. 27
erra por confusão conceitual. 27
O jornalista não deve reduzir a
economia a uma regra de três. 27
economia a uma regra de três. 27
Foi Fernando Henrique Cardoso
quem formulou a versão mais acabada da teoria da dependência, ao postular que
são as relações internas de cada país que tornam possível e dão forma à
dependência. Para Fernando Henrique, dependência é a condição de funcionamento
geral do sistema econômico e político, e subdesenvolvimento a medida do grau de
diferenciação dos subsistemas. Ao contrário da maioria dos demais,
impressionado pelo milagre econômico dos anos 70, Fernando Henrique dizia ser
possível o desenvolvimento auto-sustentado, mesmo dentro da relação de
dependência, em virtude de uma solidariedade econômica entre centro e
periferia, apesar dos obstáculos políticos a serem vencidos na periferia. 48
quem formulou a versão mais acabada da teoria da dependência, ao postular que
são as relações internas de cada país que tornam possível e dão forma à
dependência. Para Fernando Henrique, dependência é a condição de funcionamento
geral do sistema econômico e político, e subdesenvolvimento a medida do grau de
diferenciação dos subsistemas. Ao contrário da maioria dos demais,
impressionado pelo milagre econômico dos anos 70, Fernando Henrique dizia ser
possível o desenvolvimento auto-sustentado, mesmo dentro da relação de
dependência, em virtude de uma solidariedade econômica entre centro e
periferia, apesar dos obstáculos políticos a serem vencidos na periferia. 48
Com o advento do neoliberalismo
dos anos 80, essa tese se tornou não só majoritária, mas hegemônica, a ponto de
desqualificar a priori toda alegação
em contrário, considerar o desenvolvimento autônomo como impossível e
indesejável, e erigir o capital estrangeiro como “força redentora”, a única
salvação dos países de baixa renda. O jornalismo econômico no Brasil é
comandado por essa tese, tanto em sua atitude geral como nas minúcias da
cobertura. 69
dos anos 80, essa tese se tornou não só majoritária, mas hegemônica, a ponto de
desqualificar a priori toda alegação
em contrário, considerar o desenvolvimento autônomo como impossível e
indesejável, e erigir o capital estrangeiro como “força redentora”, a única
salvação dos países de baixa renda. O jornalismo econômico no Brasil é
comandado por essa tese, tanto em sua atitude geral como nas minúcias da
cobertura. 69
Erro do jor econ.: chamar de
investimento as aplicações de capitais estrangeiros na Bolsa de Valores
brasileiro. Confusão com investimento produtivo.
investimento as aplicações de capitais estrangeiros na Bolsa de Valores
brasileiro. Confusão com investimento produtivo.
Com a inflação crônica, o Brasil
desenvolveu dezenas de índices de preços, nacionais, regionais ou setoriais. O
acompanhamento dos preços tornou-se obsessivo, ocupando amplos espaços e
manchetes frequentes. Jornais importante, como a Folha de S. Paulo e O Estado
de S. Paulo, criaram seções de acompanhamento de preços da cesta básica de
supermercados e hipermercados. 130
desenvolveu dezenas de índices de preços, nacionais, regionais ou setoriais. O
acompanhamento dos preços tornou-se obsessivo, ocupando amplos espaços e
manchetes frequentes. Jornais importante, como a Folha de S. Paulo e O Estado
de S. Paulo, criaram seções de acompanhamento de preços da cesta básica de
supermercados e hipermercados. 130
O neoliberalismo se oferece
então como a ideologia da reação à queda contínua do lucro das grandes empresas
nos anos de 70, quando o acirramento do conflito distributivo aumentou o poder
de barganha do movimento sindical, especialmente na Europa. 153
então como a ideologia da reação à queda contínua do lucro das grandes empresas
nos anos de 70, quando o acirramento do conflito distributivo aumentou o poder
de barganha do movimento sindical, especialmente na Europa. 153
No ano seguinte (1980), Ronald
Reagan chegou ao poder nos Estado Unidos, implantando a versão norte-americana
do neoloberalismo, a reagonomics, que
consistia basicamente em reduzir os benefícios sociais dentro dos Estados
Unidos e priorizar as privatizações em suas áreas de influência, especialmente
na América Latina. 153
Reagan chegou ao poder nos Estado Unidos, implantando a versão norte-americana
do neoloberalismo, a reagonomics, que
consistia basicamente em reduzir os benefícios sociais dentro dos Estados
Unidos e priorizar as privatizações em suas áreas de influência, especialmente
na América Latina. 153
Desde o surgimento dos grandes
empréstimos bancários coletivos, os empréstimos sindicalizados (syndicated loans), por volta de 1967,
ficou evidenciadaa relação direta entre os novos meios de comunicação e novos
tipos de operações econômicas e financeiras. 158
empréstimos bancários coletivos, os empréstimos sindicalizados (syndicated loans), por volta de 1967,
ficou evidenciadaa relação direta entre os novos meios de comunicação e novos
tipos de operações econômicas e financeiras. 158
A revolução das comunicações
está provocando outras mudanças nos fluxos de informação econômica e na práxis jornalística. (…) Com base na
informática, estão se multiplicando os boletins on line, em geral publicados pelos grandes jornais. No Brasil, O Estado de S. Paulo e A Gazeta Mercantil publicam boletins on line, com várias edições diárias,
transmitidos a assinantes via faz. 161
está provocando outras mudanças nos fluxos de informação econômica e na práxis jornalística. (…) Com base na
informática, estão se multiplicando os boletins on line, em geral publicados pelos grandes jornais. No Brasil, O Estado de S. Paulo e A Gazeta Mercantil publicam boletins on line, com várias edições diárias,
transmitidos a assinantes via faz. 161
Tanto no jornalismo escrito como
no rádio e na TV é a narrativa final que define a qualidade da informação. A personalidade
pública do jornalista, seu padrão ético e profissional. O bom jornalista
procura ter uma boa narrativa, ser um bom contador de histórias. 167
no rádio e na TV é a narrativa final que define a qualidade da informação. A personalidade
pública do jornalista, seu padrão ético e profissional. O bom jornalista
procura ter uma boa narrativa, ser um bom contador de histórias. 167
A intencionalidade do jornalista
pode ou não ser compartilhada pelos leitores. O texto é também a base de um
diálogo com o leitor, e por isso o jornalista deve deixar que ele tira suas
próprias conclusões. 167
pode ou não ser compartilhada pelos leitores. O texto é também a base de um
diálogo com o leitor, e por isso o jornalista deve deixar que ele tira suas
próprias conclusões. 167
No jornalismo dedicado à
economia, um dos principais problemas de linguagem está no fato de ele se
dirigir a pelo menos dois públicos bem diferentes, que se comunicam por códigos
próprios: de um lado, especialistas, grandes empresários e profissionais do
mercado; de outro, o grande público e os pequenos empresários. 167
economia, um dos principais problemas de linguagem está no fato de ele se
dirigir a pelo menos dois públicos bem diferentes, que se comunicam por códigos
próprios: de um lado, especialistas, grandes empresários e profissionais do
mercado; de outro, o grande público e os pequenos empresários. 167
A linguagem é também
constitutiva de quem a formula, envolve todo o processo de estruturação do
saber e do conhecimento de cada um e de cada coletivo. Os economistas apenas
aparentemente usam a linguagem comum. De fato, eles a codificam em linguagem
científica, na qual não apenas os argumentos são lógicos, mas também seus
conteúdos são constituídos de sistemas lógicos, conceitos, relações e leis
econômicas. 168
constitutiva de quem a formula, envolve todo o processo de estruturação do
saber e do conhecimento de cada um e de cada coletivo. Os economistas apenas
aparentemente usam a linguagem comum. De fato, eles a codificam em linguagem
científica, na qual não apenas os argumentos são lógicos, mas também seus
conteúdos são constituídos de sistemas lógicos, conceitos, relações e leis
econômicas. 168
O desafio do jornalista está em
reportar e analisar, transmitir opiniões de conomistas e governo, sem usar
linguagem que as pessoas comuns não entendam, e sem violar os conceitos criados
pela linguagem dos economistas. 168
reportar e analisar, transmitir opiniões de conomistas e governo, sem usar
linguagem que as pessoas comuns não entendam, e sem violar os conceitos criados
pela linguagem dos economistas. 168
Trata-se de objetividade como um
princípio de adesão à honestidade intelectual e de propósitos e de primazia dos
fatos, que se materializa na linguagem jornalística por meio de um conjunto de
atributos de fundo e de estilo. 168
princípio de adesão à honestidade intelectual e de propósitos e de primazia dos
fatos, que se materializa na linguagem jornalística por meio de um conjunto de
atributos de fundo e de estilo. 168
Atributos de fundo: relevância
social do tema; hierarquização dos fatos; concatenação e contextualização;
distinção entre opinião e informação.
social do tema; hierarquização dos fatos; concatenação e contextualização;
distinção entre opinião e informação.
Atributos de estilo: clareza,
simplicidade, concisão e precisão.
simplicidade, concisão e precisão.
A narrativa deve fluir naturalmente e ser
absorvida sem que o leitor tenha de se deter para decodificar o que está lendo.
168[AC2]
absorvida sem que o leitor tenha de se deter para decodificar o que está lendo.
168[AC2]
Além de pouco claros, eufemismos
como “crescimento negativo” têm motivações ideológicas. As elites dominantes
esmeram-se em cria-los para camuflar os conteúdos de suas políticas econômicas.
Os eufemismos emasculam a linguagem jornalística. 169
como “crescimento negativo” têm motivações ideológicas. As elites dominantes
esmeram-se em cria-los para camuflar os conteúdos de suas políticas econômicas.
Os eufemismos emasculam a linguagem jornalística. 169
Para cada ação, um verbo
específico, para cada verbo, uma ação. 170
específico, para cada verbo, uma ação. 170
A maioria das profissões
definem-se por uma técnica. O jornalismo define-se por uma ética, um conjunto de valores que implicam regras específicas de
conduta e responsabilidade pessoal do jornalista pelo seu trabalho. 173
definem-se por uma técnica. O jornalismo define-se por uma ética, um conjunto de valores que implicam regras específicas de
conduta e responsabilidade pessoal do jornalista pelo seu trabalho. 173
A mera escolha do tema a ser
ttratado em cada dia tem implicações éticas, assim como a decisão de usar ou
não uma fotografia, de ouvir ou não mais uma fonte, de escutar ou não uma
conversa de terceiros, de invadir ou não a privacidade de uma pessoa, de
surrupiar um documento confidencial do governo. 173
ttratado em cada dia tem implicações éticas, assim como a decisão de usar ou
não uma fotografia, de ouvir ou não mais uma fonte, de escutar ou não uma
conversa de terceiros, de invadir ou não a privacidade de uma pessoa, de
surrupiar um documento confidencial do governo. 173
A própria competência do
jornalista é em grande parte medida pela sua capacidade de resolver
adequadamente os dilemas éticos, exercendo ao máximo sua liberdade e
independência, sob a pressão do tempo, dos jogos de poder e das limitações de
mercado. 173
jornalista é em grande parte medida pela sua capacidade de resolver
adequadamente os dilemas éticos, exercendo ao máximo sua liberdade e
independência, sob a pressão do tempo, dos jogos de poder e das limitações de
mercado. 173
Nos seus primórdios, o
jornalismo foi veículo de informações comerciais e econômicas de homens de
negócios. Logo se tornou instrumento do direito de expressão do cidadão na
fundação da democracia e da República. 174
jornalismo foi veículo de informações comerciais e econômicas de homens de
negócios. Logo se tornou instrumento do direito de expressão do cidadão na
fundação da democracia e da República. 174
O jornalista tornou-se um dos
principais agentes da democracia, cabendo a ele revelar segredos do poder,
informar, educar e esclarecer a população e, portanto, contribuir para a
construção da cidadania e do exercício dos dieritos civis. 174
principais agentes da democracia, cabendo a ele revelar segredos do poder,
informar, educar e esclarecer a população e, portanto, contribuir para a
construção da cidadania e do exercício dos dieritos civis. 174
Os dois princípios fundamentais
do padrão ético do jornalismo das democracias liberais são os de que a imprensa
é considerada essencial à existência da democracia e de que cada jornalista é
inteiramente responsável pelo que escreve e pelos resultados de sua ação, na
medida em que ela é necessariamente intencional e consciente. 174
do padrão ético do jornalismo das democracias liberais são os de que a imprensa
é considerada essencial à existência da democracia e de que cada jornalista é
inteiramente responsável pelo que escreve e pelos resultados de sua ação, na
medida em que ela é necessariamente intencional e consciente. 174
O jornal é uma mercadoria,
vendida para dar lucro e, em geral, de propriedade de uma empresa ou de um
empresário, e não dos próprios jornalistas. 176
vendida para dar lucro e, em geral, de propriedade de uma empresa ou de um
empresário, e não dos próprios jornalistas. 176
O jornalismo especializado em
economia está centrado muito mais nos mecanismos de produção e no processo
geral de acumulação. Seu objeto principal é a lógica de produção de lucros.
Seus valores referenciais são o sucesso a esperteza, e a verdade, nessa ordem.
Seus heróis são as empresas bem-sucedidas. Sua ideologia mais permanente é a
das teorias econômicas marginalistas que relegam o homem ao papel de variável
dependente do sistema. (…) Podemos dizer que o jornalismo econômico não é
apenas uma especialização, é uma modalidade de jornalismo, referenciada por uma
ética própria. 176
economia está centrado muito mais nos mecanismos de produção e no processo
geral de acumulação. Seu objeto principal é a lógica de produção de lucros.
Seus valores referenciais são o sucesso a esperteza, e a verdade, nessa ordem.
Seus heróis são as empresas bem-sucedidas. Sua ideologia mais permanente é a
das teorias econômicas marginalistas que relegam o homem ao papel de variável
dependente do sistema. (…) Podemos dizer que o jornalismo econômico não é
apenas uma especialização, é uma modalidade de jornalismo, referenciada por uma
ética própria. 176
Kucinski caracteriza o
jornalismo e a cultura brasileira como autoritários. O jornalismo praticado
aqui se diferencia daquele praticado em países com democracias liberais no que
se refere à “renúncia à opinião própria não por respeito a uma objetividade
jornalística, mas por autocensura” (p. 177). A autocensura é fruto do regime
militar. As empresas jornalísticas, durante o período de censura, se identificava com os objetivos do regime e
estava preocupada em evitar a censura direta para não tornar o produto final
diário imprestável. “Daí a auto-acomodação aos interesses do regime. O
jornalista brasileiro típico é hoje aquele que naturalmente limita ou dosa as
revelações que publica. A autocensura tornou-se uma cultura tão dominante que
os jornalistas que rompem esse padrão bem comportado são mal vistos ou
relegados ao ostracismo” (p. 177). O jornalista brasileiro não tem como seu
norte os interesses do público. “O jornalista brasileiro acredita, em geral,
que deve ponderar sobre as consequências da verdade que pretende publicas,
sobre quem ou que grupos se beneficiarão dessa publicação, e condicionar sua
publicação a esse julgamento” (p. 178).
jornalismo e a cultura brasileira como autoritários. O jornalismo praticado
aqui se diferencia daquele praticado em países com democracias liberais no que
se refere à “renúncia à opinião própria não por respeito a uma objetividade
jornalística, mas por autocensura” (p. 177). A autocensura é fruto do regime
militar. As empresas jornalísticas, durante o período de censura, se identificava com os objetivos do regime e
estava preocupada em evitar a censura direta para não tornar o produto final
diário imprestável. “Daí a auto-acomodação aos interesses do regime. O
jornalista brasileiro típico é hoje aquele que naturalmente limita ou dosa as
revelações que publica. A autocensura tornou-se uma cultura tão dominante que
os jornalistas que rompem esse padrão bem comportado são mal vistos ou
relegados ao ostracismo” (p. 177). O jornalista brasileiro não tem como seu
norte os interesses do público. “O jornalista brasileiro acredita, em geral,
que deve ponderar sobre as consequências da verdade que pretende publicas,
sobre quem ou que grupos se beneficiarão dessa publicação, e condicionar sua
publicação a esse julgamento” (p. 178).
O modo de pensar estritamente
ideológico, composto apenas por ideias acabadas, é antijornalístico porque
prescinde dos fatos, que são os fundamentos do jornalismo. Age como
camisa-de-força intelectual, que dispensa a observação e despreza a informação
contrária aos seus dogmas. 183
ideológico, composto apenas por ideias acabadas, é antijornalístico porque
prescinde dos fatos, que são os fundamentos do jornalismo. Age como
camisa-de-força intelectual, que dispensa a observação e despreza a informação
contrária aos seus dogmas. 183
Foi assim no Brasil, na
implantação do projeto neoliberal, em especial na campanha pelas privatizações, [AC3] em
que todos os meios de comunicação de massa adotaram a mesma posição, apesar de
a sociedade civil estar dividida. 183
implantação do projeto neoliberal, em especial na campanha pelas privatizações, [AC3] em
que todos os meios de comunicação de massa adotaram a mesma posição, apesar de
a sociedade civil estar dividida. 183
Os padrçoes ideológicos do
jornalismo surgem dos padrões das elites dominantes no momento. “Na ideologia
do jornalismo econômico especificamente, influem muito as teorias econômicas
dominantes em cada período. Essas teorias (…) fazem parte do conjunto de
respostas das classes dominantes às várias crises que se sucedem no sistema”
(p. 184)
jornalismo surgem dos padrões das elites dominantes no momento. “Na ideologia
do jornalismo econômico especificamente, influem muito as teorias econômicas
dominantes em cada período. Essas teorias (…) fazem parte do conjunto de
respostas das classes dominantes às várias crises que se sucedem no sistema”
(p. 184)
No jornalismo econômico, The Economist ocupa posição-chave, como
geradora primária de ideologia, papel que assumiu como proposta editorial e por
ser a revista transnacional por excelência, lida pela comunidade internacional
de homens de negócios. 184
geradora primária de ideologia, papel que assumiu como proposta editorial e por
ser a revista transnacional por excelência, lida pela comunidade internacional
de homens de negócios. 184
Padrão ideológico: defesa da
livre empresa e da democracia liberal.
livre empresa e da democracia liberal.
No centrismo a objetividade
jornalística se torna uma ideologia, no sentido de tentar justificar
teoricamente a limitação no exercício da visão crítica. O centrismo é por sua
vez a ideologia de uma política de controle social das redações baseada na
desqualificação dos que defendem a reforma social. Sob a moderação do
centrismo, os conservadores sentem-se à vontade, enquanto os reformadores ficam
na defensiva. 185
jornalística se torna uma ideologia, no sentido de tentar justificar
teoricamente a limitação no exercício da visão crítica. O centrismo é por sua
vez a ideologia de uma política de controle social das redações baseada na
desqualificação dos que defendem a reforma social. Sob a moderação do
centrismo, os conservadores sentem-se à vontade, enquanto os reformadores ficam
na defensiva. 185
A teoria econômica não só
desumanizou-se como tornou-se ela própria um instrumento de maior desumanização
da economia e do jornalismo econômico. (…) A negação do social pelas forças
econômicas, que no neoliberalismo se tornou explícita e programática, se
reflete na negação do social pelo jornalismo econômico convencional. 187
desumanizou-se como tornou-se ela própria um instrumento de maior desumanização
da economia e do jornalismo econômico. (…) A negação do social pelas forças
econômicas, que no neoliberalismo se tornou explícita e programática, se
reflete na negação do social pelo jornalismo econômico convencional. 187
Na era neoliberal o jornalismo
econômico se torna quase que um “aparelho ideológico de Estado”, um dos
mecanismos não coercitivos usados pelas elites dominantes ou pelo Estado para
manter as condições de reprodução do sistema, ao lado da escola e da Igreja,
conforme tese do filósofo francês Louis Althusser. 188
econômico se torna quase que um “aparelho ideológico de Estado”, um dos
mecanismos não coercitivos usados pelas elites dominantes ou pelo Estado para
manter as condições de reprodução do sistema, ao lado da escola e da Igreja,
conforme tese do filósofo francês Louis Althusser. 188
A escolha da boa notícia, ao
contrário do catastrofismo que caracteriza o jornalismo genérico, justifica-se
pela natureza do processo econômico, mas tem conotações ideológicas. 188
contrário do catastrofismo que caracteriza o jornalismo genérico, justifica-se
pela natureza do processo econômico, mas tem conotações ideológicas. 188
Os jornais de influência
nacional são assim designados exatamente devido à sua homogeneidade ideológica
e importância como articuladores do processo de formação do discurso de
persuasão das elites em torno do consenso nacional. 190
nacional são assim designados exatamente devido à sua homogeneidade ideológica
e importância como articuladores do processo de formação do discurso de
persuasão das elites em torno do consenso nacional. 190
O OFICIALISMO: “Nosso jornalismo
econômico tem se
revelado subserviente [AC4] ao
governo do dia, especialmente nos momentos cruciais em que o governo baixa
pacotes econômicos e na abordagem geral das políticas econômicas” (p. 191)
econômico tem se
revelado subserviente [AC4] ao
governo do dia, especialmente nos momentos cruciais em que o governo baixa
pacotes econômicos e na abordagem geral das políticas econômicas” (p. 191)