CARNEIRO, R. Desenvolvimento em crise: a economia brasileira no último quarto do
século XX. São Paulo: UNESP/IE-UNICAMP, Cap. 6, 2002.
século XX. São Paulo: UNESP/IE-UNICAMP, Cap. 6, 2002.
O autor dedica o capítulo à análise da
crise monetária e da hiperinflação brasileira na década de 1980. Começando pela
discussão se houve ou não a hiperinflação, dadas as diferentes interpretações
do conceito e da realidade brasileira na época, Carneiro apresenta visões de
diferentes trabalhos sobre o tema para debate-lo. Se fosse levado a risca, a
hiperinflação não teria ocorrido no Brasil na opinião de uns por conta da não
existência de substituição monetária radical da moeda nacional. Em discordância
desse ponto, Carneiro alega que a maioria dos autores defende a existência
desse fenômeno inflacionário elevado por que houve na economia brasileira a
moeda indexada o que na prática gerou uma substituição monetária. Essa prática
representou de maneira indireta a dolarização de nossa economia, segundo ele.
crise monetária e da hiperinflação brasileira na década de 1980. Começando pela
discussão se houve ou não a hiperinflação, dadas as diferentes interpretações
do conceito e da realidade brasileira na época, Carneiro apresenta visões de
diferentes trabalhos sobre o tema para debate-lo. Se fosse levado a risca, a
hiperinflação não teria ocorrido no Brasil na opinião de uns por conta da não
existência de substituição monetária radical da moeda nacional. Em discordância
desse ponto, Carneiro alega que a maioria dos autores defende a existência
desse fenômeno inflacionário elevado por que houve na economia brasileira a
moeda indexada o que na prática gerou uma substituição monetária. Essa prática
representou de maneira indireta a dolarização de nossa economia, segundo ele.
Após introduzir a discussão, Carneiro
divide a década de 1980 em dois períodos para sua análise. O primeiro,
referente aos cinco primeiros anos, começa com o esforço de ajustamento externo
para se obter superávits comerciais e enviar recursos para o exterior. Este
período é marcado pela redução da periodicidade das minidesvalorizações até se
chegar em desvalorizações diárias em 1985 dada a aceleração da inflação
doméstica. Além da política cambial, a monetária se torna mais recessiva por
conta do foco na redução da absorção doméstica e a transferência de recursos
reais para o exterior. A questão principal por detrás da inflação era a
evolução dos preços do câmbio e dos juros e o efeito que eles tinham nas
expectativas dos agentes. Para proteger o capital, empresários flexibilizam
suas margens de lucro e, segundo Almeida & Novais, citados por Carneiro, “foi
o aumento das margens de lucro das grandes empresas que constituiu o fator
predominante de aceleração da inflação durante o período” (2002, p. 2010).
Portanto, é viável admitir que a recessão não foi eficaz contra a elevação dos
preços já que as grandes empresas encontravam, além de seu poder de mercado, um
coeficiente para importar reduzido na economia brasileira, o que diminuía a
concorrência com os produtos externos e aumentava a liberdade na fixação dos
preços.
divide a década de 1980 em dois períodos para sua análise. O primeiro,
referente aos cinco primeiros anos, começa com o esforço de ajustamento externo
para se obter superávits comerciais e enviar recursos para o exterior. Este
período é marcado pela redução da periodicidade das minidesvalorizações até se
chegar em desvalorizações diárias em 1985 dada a aceleração da inflação
doméstica. Além da política cambial, a monetária se torna mais recessiva por
conta do foco na redução da absorção doméstica e a transferência de recursos
reais para o exterior. A questão principal por detrás da inflação era a
evolução dos preços do câmbio e dos juros e o efeito que eles tinham nas
expectativas dos agentes. Para proteger o capital, empresários flexibilizam
suas margens de lucro e, segundo Almeida & Novais, citados por Carneiro, “foi
o aumento das margens de lucro das grandes empresas que constituiu o fator
predominante de aceleração da inflação durante o período” (2002, p. 2010).
Portanto, é viável admitir que a recessão não foi eficaz contra a elevação dos
preços já que as grandes empresas encontravam, além de seu poder de mercado, um
coeficiente para importar reduzido na economia brasileira, o que diminuía a
concorrência com os produtos externos e aumentava a liberdade na fixação dos
preços.
A moeda indexada se apoiava na correção
monetária. Por conta disso, os bancos encurtam o prazo das aplicações e aceitam
depósitos remunerados com liquidez imediata. Para isso, reduzem os empréstimos,
de liquidez menor, e eles foram sendo substituídos por títulos públicos. Para
se adaptar, o Banco Central precisou emitir títulos com prazo mais curtos
indexados à correção monetária. Todo esse mecanismo têm consequências. Para os
bancos, há a perda de capacidade de criação de moeda bancária, ou seja, a
supressão do multiplicador bancário. Para o público há uma perda da diferença
entre poupança e moeda, dado esse encurtamento dos prazos. E para o Banco
Central a perda da capacidade de fazer política monetária, ou seja, “a
capacidade de alterar a taxa de juros básica do sistema ou o nível de reservas
do sistema bancário, a sua disposição de conceder crédito e, a partir daí, via
mecanismos de transmissão, a trajetória de variáveis reais” (Carneiro: 2002, p.
213). O BC não consegue mais alterar a liquidez do sistema por meio da venda de
títulos.
monetária. Por conta disso, os bancos encurtam o prazo das aplicações e aceitam
depósitos remunerados com liquidez imediata. Para isso, reduzem os empréstimos,
de liquidez menor, e eles foram sendo substituídos por títulos públicos. Para
se adaptar, o Banco Central precisou emitir títulos com prazo mais curtos
indexados à correção monetária. Todo esse mecanismo têm consequências. Para os
bancos, há a perda de capacidade de criação de moeda bancária, ou seja, a
supressão do multiplicador bancário. Para o público há uma perda da diferença
entre poupança e moeda, dado esse encurtamento dos prazos. E para o Banco
Central a perda da capacidade de fazer política monetária, ou seja, “a
capacidade de alterar a taxa de juros básica do sistema ou o nível de reservas
do sistema bancário, a sua disposição de conceder crédito e, a partir daí, via
mecanismos de transmissão, a trajetória de variáveis reais” (Carneiro: 2002, p.
213). O BC não consegue mais alterar a liquidez do sistema por meio da venda de
títulos.
Nesse cenário, o Plano Cruzado teve o
fracasso que teve porque não foi capaz de assegurar a estabilidade de preços
após o congelamento. A manutenção desse congelamento teve consequências na taxa
real de câmbio, apreciando-a. Mas essa revalorização só seria sustentável se o
Brasil conseguisse reduzir as transferências de recursos reais ao exterior por
meio de novos financiamentos ou renegociação da dívida, mas o cenário ainda era
restritivo internacionalmente. Contudo, como aponta o autor, a questão
principal era como recuperar o nível de gastos e investimentos sem ampliar o
endividamento público junto ao setor privado, mas essa questão não foi
considerada.
fracasso que teve porque não foi capaz de assegurar a estabilidade de preços
após o congelamento. A manutenção desse congelamento teve consequências na taxa
real de câmbio, apreciando-a. Mas essa revalorização só seria sustentável se o
Brasil conseguisse reduzir as transferências de recursos reais ao exterior por
meio de novos financiamentos ou renegociação da dívida, mas o cenário ainda era
restritivo internacionalmente. Contudo, como aponta o autor, a questão
principal era como recuperar o nível de gastos e investimentos sem ampliar o
endividamento público junto ao setor privado, mas essa questão não foi
considerada.
Carneiro afirma que o Plano Cruzado “abriu
caminho à crescente explicitação da hiperinflação” (2002, p. 214). Segundo ele, os elementos para caracterizar a
hiperinflação estavam na financeirização dos preços e na polarização da riqueza
financeira nas quase-moedas ou na moeda indexada. O autor explica que a
aceleração dos preços foi tão rápida que começou-se a usar as taxas de juros de
curtíssimo prazo (overnight) como critério para reajuste dos preços. Este
processos é o que Belluzzo & Almeida (1990) batizaram de “financeirização
dos preços”. Esse ‘fenômeno’ a formação de preços perdeu as referências com o processo
produtivo concreto, ou seja, com os custos.
caminho à crescente explicitação da hiperinflação” (2002, p. 214). Segundo ele, os elementos para caracterizar a
hiperinflação estavam na financeirização dos preços e na polarização da riqueza
financeira nas quase-moedas ou na moeda indexada. O autor explica que a
aceleração dos preços foi tão rápida que começou-se a usar as taxas de juros de
curtíssimo prazo (overnight) como critério para reajuste dos preços. Este
processos é o que Belluzzo & Almeida (1990) batizaram de “financeirização
dos preços”. Esse ‘fenômeno’ a formação de preços perdeu as referências com o processo
produtivo concreto, ou seja, com os custos.
Há uma tentativa de reverter a situação
com o Plano Collor e sua reforma monetária. O bloqueio da poupança e dos ativos
e as demais ações tomadas pelo governo para a instauração da nova moeda gerou
uma avaliação positiva, de que ela foi competente em restaurar algumas das
funções da moeda nacional, apesar de não conseguir erradicar o regime de alta
inflação, mas conseguiu deter a hiperinflação. A raiz do sucesso no combate à
hiperinflação está, segundo Carneiro, no sequestro da liquidez e nos critérios de correção
monetária dessa liquidez. Houve deságio de vários títulos públicos e privados.
A consequência disso foi que todos os ativos reais e de risco sofreram
desvalorização, ou seja, a reforma evitou a explosão de preços dos ativos
reais.
com o Plano Collor e sua reforma monetária. O bloqueio da poupança e dos ativos
e as demais ações tomadas pelo governo para a instauração da nova moeda gerou
uma avaliação positiva, de que ela foi competente em restaurar algumas das
funções da moeda nacional, apesar de não conseguir erradicar o regime de alta
inflação, mas conseguiu deter a hiperinflação. A raiz do sucesso no combate à
hiperinflação está, segundo Carneiro, no sequestro da liquidez e nos critérios de correção
monetária dessa liquidez. Houve deságio de vários títulos públicos e privados.
A consequência disso foi que todos os ativos reais e de risco sofreram
desvalorização, ou seja, a reforma evitou a explosão de preços dos ativos
reais.