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Privatização, abertura e desindexação: a primeira metade dos anos 90

CASTRO, Lavínia Barros de. Privatização, abertura e desindexação: a primeira metade dos anos 90.
In: GAMBIAGI, F.;  VILLELLA, A.; BARROS DE CASTRO,  L; HERMMAN, J. Economia Brasileira e
Contemporânea (1945-2004) Editora Elsivier/Campus, 2005.
As reformas propostas por Collor, de fato, intriduziram uma
ruptura com o modelo brasileiro de crescimento com elevada participação do
Estado e proteção tarifária, ainda que, na prática, a abertura comercial e
financeira, bem como o processo de privatização, apenas deram seus primeiros
passos no período de 1990-94. 142
A década de 1990 marcou uma mudança no modelo de
desenvolvimento brasileiro. Entre 1950-80, o país cresceu com taxa média de
7,4% por conta de três principais características do modelo de industrialização
pós-Guerra: “(1) a participação direta do Estado no suprimento da
infra-estrutura econômica (energia e transportes) e em alguns setores
considerados prioritários (siderurgia, mineração e petroquímica); (2) a elevada
proteção à indústria nacional, mediante tarifas e diversos tipos de barreiras
não-tarifárias; e (3) o fornecimento de crédito em condições favorecidas para a
implantação de novos projetos.” (p. 143)
O modelo de substituição de importações, defendido
principalmente pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe
(Cepal), se colocava contra a política econômica heterodoxa e se mostrava como
alternativa de industrialização para os países retardatários do continente.
Colocado em prática no Brasil após 1968, o modelo considerava três as
principais atribuições do Estado: ele deveria ser indutor da industrialização,
empreendedor e gerenciador dos escassos recursos cambiais (p. 143). O
resultado, porém, deixou algumas sequelas para a economia brasileira: “uma
estrutura de incentivos distorcida em certos setores (por exemplo, em alguns
segmentos de bens de capital, em que não se atingiu a escala e praticamente não
houve transferência de tecnologia); um certo viés antiexportador (exceto nos
segmentos em que as atividades exportadoras foram incentivadas); e
enfividamento do Estado (sobretudo no período do II PND).” (pg. 144) Apesar
disso, o parque industrial brasileiro é considerado completo e integrado no
início dos anos 1980.
“Por ocasião de um encontro do Institute for International Economics
em Washington, D.C., o economista John Williamson listou uma série de reformas
que os países em desenvolvimento deveriam adotar na área econômica para que
entrassem em uma trajetória de crescimento auto-sustentado. Essa lista foi
intitulada de ‘Consenso de Washington’, pois o mesmo acreditava ser um conjunto
de medidas com que a maioria dos economistas ali presentes estava de acordo.
Sumariamente, as propostas de Williamsom visavam assegurar a disciplina fiscal
e promover ampla liberalização comercial e financeira, além de forte redução do
papel do Estado na economia” (p. 145)
“As políticas de intensificação da abertura econômica e de
privatização do governo Collor se inseriam no contexto da chamada nova Política
Industrial e de Comércio Exterior (PICE), lançada no início do governo. […] É
importante notar, entretanto, que a recuperação do atraso industrial era visto
pelo governo não apenas como uma prioridade per
se
, como também como uma condição necessária para se obter uma estabilidade
duradoura dos preços”  (p. 146)
“Nos anos 90, o Plano Nacional de Desestatização (PND) foi
considerado prioritário. Através dele, pretendia-se (além de contribuir para um
redesenho do parque industrial e para a consolidação da estabilidade): reduzir
a dívida pública (via aceitação de títulos como moeda de privatização), bem
como utilizar os cruzados novos bloqueados como recursos para privatização.”
(p. 146)
A natureza relativamente modesta das privatizações
realizadas em relação aos prognósticos inciais dos governos Collor e Itamar
Franco possui várias explicações: (1) muitas empresas públicas estavam em má
situação financeira e precisavam ser saneadas para que existisse interesse na
sua aquisição; (2) existia grande dificuldade em avaliar os ativos estatais,
após anos de alta inflação; (3) havia resistência do público e um governo que
perdia credibilidade; (4) alguns setores, tais como de jazidas minerais e setor
elétrico, não podiam, pela Constituição de 1988, ser vendidos para
estrangeiros; 5) operações mais complexas exigiam per se ganhos de experiência de privatização, que ainda não
existiam.” (p. 146-7)

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