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Marx e o fetichismo

Por que o trabalho é representado
pelo valor do produto? Segundo Marx esta é um dos pontos que os economistas
clássicos não conseguiram responder. A crítica feita pelo autor aos seus
precursores é resumida no conceito que ele apresenta como o “fetichismo”.
As mercadorias, para Marx, são
cheias de sutilezas metafísicas e argúcias teológicas, ou seja, há mais num
simples objeto que simples características materiais. As mercadorias encobrem
em si o trabalho privado e as relações entre os produtores:
“A igualdade dos trabalhos humanos fica disfarçada sob
a forma da igualdade dos produtos do trabalho como valores; a medida, por meio
da duração, do dispêndio da força humana de trabalho, toma a forma de
quantidade de valor dos produtos do trabalho; finalmente, as relações entre os
produtores, na qual se afirma o caráter social dos seus trabalhos, assumem a
forma de relação social entre os produtos do trabalho” (p. 94)
Os homens não se relacionam
socialmente mais pelos seus trabalhos, mas sim por suas coisas. O processo de
produção domina o homem e não o contrário e para os participantes das trocas de
mercadorias, “a própria atividade social possui a forma de uma atividade das
coisas sob cujo controle se encontram, ao invés de as controlarem” (p. 96). Marx
define o fetichismo:
“Uma relação social definida, estabelecida entre os
homens, assume a forma fantasmagórica de uma relação entre coisas. (…) Aí, os
produtos do cérebro humano parecem dotados de vida própria, figuras autônomas
que mantém relações entre si e com os seres humanos. É o que ocorre com os
produtos da mão humana, no mundo das mercadorias. Chamo a isso de fetichismo,
que está sempre grudado aos produtos do trabalho, quando são gerados como
mercadorias.” (p. 94)
Como argumento para esse seu
conceito, Marx faz relações entre os objetos úteis e os trabalhos privados,
além de trazer exemplos de organizações sociais onde o fetichismo não é
presente.
Para ele, objeto útil só é
mercadoria por ser produto de um trabalho humano e ser destinado à troca. O
conjunto de trabalho privado compõe a totalidade do trabalho social e apenas
com a troca o produto do trabalho adquire uma realidade social homogênea. É por
isso que a relação social entre os trabalhos privados aparece como “ralação
material entre pessoas e relações sociais entre coisas” (p. 95) e não mais como
relação entre indivíduos.
Como apenas com a troca o produto
do trabalho adquire essa realidade social homogênea, é ai, então, que o trabalho
do produtor adquire um duplo caráter social: ele tem de ser útil às
necessidades sociais para se firmar no coletivo e só satisfaz as necessidades a
medida que puder ser trocado por qualquer espécie de trabalho privado útil.
Apesar de existir trabalhos qualitativamente diferentes, ao serem permutáveis
eles são igualados e é quando as trocas assumem a forma dinheiro “que realmente
dissimula o caráter social dos trabalhos privados e, em consequência, as
relações sociais entre os produtores particulares, ao invés de pô-las em
evidências” (p. 97), ou seja, não se enxerga mais uma mercadoria como o fruto
de um trabalho social, se vê, apenas, o objeto útil.

Esse tipo de relação só acontece
em sociedades cujo produto do trabalho seja destinado à troca. Marx cita
exemplos de organizações que se diferem da capitalista e que, consequentemente,
não apresentam esse fetichismo. São elas: a ilha de Robinson Crusoé, a Idade
Média europeia e seu sistema de produção servil, uma indústria patriarcal e a
sociedade de homens livres que produzem produtos sociais. Todas essas as relações
sociais não se dão por meio de mercadorias, por meio de objetos, os produtos do
trabalho carregam consigo o caráter social do trabalho e não é dissimulado por
nenhum outro equivalente geral.

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