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“Desenvolvimento e Subdesenvolvimento”

FURTADO, Celso (1961) “Desenvolvimento e
Subdesenvolvimento”.
In: 
BIELSCHOWSKY, Ricardo. (org.)
Cinquenta anos de pensamento na CEPAL. vol. I. Rio de Janeiro,
Cofecon-Cepal; Record, 2000
, pp. 239 a 262.
Quando Furtado
fala de modelo clássico, ele se refere aos países centrais, economias
industrializadas no recorte a partir do século XVIII, considerando
principalmente a Inglaterra para seu estudo.
A revolução
industrial na Inglaterra agiu principalmente numa redução dos custos para
atender à demanda que pressionava o mercado. Num primeiro momento Furtado
trabalha com os setores manufatureiros de bens de consumo e de capital. Queda
nos preços dos bens de consumo representavam aumento dos lucros e
consequentemente um aumento da poupança dos capitalistas (assim como Lewis) e
isso permite investimento no setor de manufatura e aumento da produtividade.
Ocorre toda uma cadeia lógica da força de trabalho entre manufaturados, bens de
capital e setor agrícola. A produtividade não dispensa mão-de-obra, mas diminui
a sua necessidade. O que ocorre com a movimentação de força de trabalho entre
esses três setores é que a mão de obra passa de elástica para inelástica até
que, neste ponto, ocorre aumento de salário e esses países passam a escoar sua
produção para o exterior. Há, no final do processo, uma acomodação da mão-de-obra
nos três setores que são homogêneas em tecnologia, a economia se diversifica.
Segundo Furtado,
“A primeira fase do desenvolvimento industrial se caracterizou por um aumento
substancial da participação da indústria de bens de capital – sobretudo da
indústria de equipamentos – no total da produção industrial” (p. 248). Uma
modificação acompanhada de alterações na distribuição de renda, mas com um
crescimento maior dos lucros que dos salários. A segunda fase foi marcada por
um descompasso ou “desequilíbrio” entre a capacidade de produção de bens de
capital e a possibilidade de absorção dos mesmos.
Na periferia, o
setor agrícola e o primário exportador convivem sendo o primeiro tradicional e
o segundo intensivo em tecnologia. As economias subdesenvolvidas passam pelo
choque da Primeira Guerra Mundial e são obrigadas a ocupar sua capacidade
ociosa e inicia a substituição de importações e o setor de manufaturados.
Passado o choque
externo, um momento mais favorável para o setor primário exportador que acumula
divisas para investir na produção de bens de capital. O setor tradicional não é
transformado a fundo o que prejudica a economia porque desequilibra a balança
de pagamentos por conta das importações para bens de capital. Há, portanto,
níveis diferentes de tecnologia nos setores dessa economia.
“A resultante foi
quase sempre a criação de estruturas híbridas, uma parte das quais tendia a
comportar-se como um sistema capitalista, a outra, a manter-se dentro da
estrutura preexistente. Esse tipo de economia dualista constitui,
especificamente, o fenômeno do subdesenvolvimento contemporâneo. O
subdesenvolvimento é, portanto, um processo histórico autônomo, e não uma etapa
pela qual tenham, necessariamente, passado as economias que já alcançaram grau
superior de desenvolvimento” (p. 253)
“Apenas uma reduzida
fração da mão-de-obra disponível é absorvida pela empresa forânea; os salários
pagos a essa mão-de-obra não são determinados pelo nível de produtividade da
empresa e, sim, pelas condições de vida prevalecente na região” (p. 254), ou
seja, é possível se pagar pouco, uma vez que o padrão de vida na periferia é
diferente daquele observado no centro.
Nas fases de
forte declínio dos preços de exportação, a rentabilidade dos negócios ligados
ao mercado interno tende a crescer, em termos relativos, pois aumentam os
preços das mercadorias importadas ao mesmo tempo que mantém o nível da renda”
(p. 257)

O
subdesenvolvimento “é, em si, um processo particular, resultante da penetração
de empresas capitalistas modernas em estruturas arcaicas” (p. 261).

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