CANO,
W. (2001) Ensaios sobre a formação
econômica regional do Brasil. Campinas: Ed. Unicamp, 2002. Cap. 04: “’Crise
de 1929’: soberania na política econômica e industrialização” (pp. 89-106)
W. (2001) Ensaios sobre a formação
econômica regional do Brasil. Campinas: Ed. Unicamp, 2002. Cap. 04: “’Crise
de 1929’: soberania na política econômica e industrialização” (pp. 89-106)
Industrialização restringida entre 1930
e 1950: “Restringida, pois ainda não completou a montagem de suas bases
técnicas, e, assim, é ainda fortemente dependente das divisas, do mercado e do
excedente gerado pelo setor primário exportador” (p. 77)
e 1950: “Restringida, pois ainda não completou a montagem de suas bases
técnicas, e, assim, é ainda fortemente dependente das divisas, do mercado e do
excedente gerado pelo setor primário exportador” (p. 77)
A implantação da indústria antes de 1930
nos países da América Latina variou de acordo com o tipo de produto exportado,
a dinâmica gerada por ele, das estruturas sócio-econômicas, mercado de
trabalho, taxa de salários, capacidade de importação, produção das matérias
primas utilizadas, urbanização e grau de protecionismo tarifário.
nos países da América Latina variou de acordo com o tipo de produto exportado,
a dinâmica gerada por ele, das estruturas sócio-econômicas, mercado de
trabalho, taxa de salários, capacidade de importação, produção das matérias
primas utilizadas, urbanização e grau de protecionismo tarifário.
São necessárias condições políticas e
econômicas para sustentar o processo de industrialização:
econômicas para sustentar o processo de industrialização:
– Existência prévia de implantação
industrial que dê conta da demanda em momentos de crise e estancamento das
importações;
industrial que dê conta da demanda em momentos de crise e estancamento das
importações;
– deve haver divisas para bancar insumos
e equipamentos ainda não produzidos nos país;
e equipamentos ainda não produzidos nos país;
– vontade política por um Estado atuante
e indutor do setor privado, que implemente instrumentos e políticas reativas à
crise e que avance na industrialização para internalização de meios de
produção;
e indutor do setor privado, que implemente instrumentos e políticas reativas à
crise e que avance na industrialização para internalização de meios de
produção;
– menores restrições internas frente a
crises profundas para fortalecer o apoio político a esse processo;
crises profundas para fortalecer o apoio político a esse processo;
Até a década de 1920 o mercado nacional
era fracamente integrado e a política relativamente liberal do comércio
exterior proporcionava um alto coeficiente de importação e a possibilidade de
implantação de algumas indústrias. A demanda por bens industrializados era
atendida por meio da produção nacional ou internacionais. Faltava à indústria
nacional dinâmica suficiente para romper com o isolamento e conquistar o
mercado interno para si, com exceção de São Paulo. A Primeira Guerra Mundial
estancou as importações e deu a oportunidade de SP usar o excesso de produção
para comercializar com o resto do país. Apesar disso, o estado não escapou da
crise de superacumulação gerada pela crise da valorização cambial entre 1924 e
1926 que diminuiu a proteção à indústria e permitiu a entrada de produtos
estrangeiros reduzindo o mercado das indústrias nacionais; além dos problemas
gerados pela superprodução do café que inviabiliza os financiamentos dos
estoques invendáveis.
era fracamente integrado e a política relativamente liberal do comércio
exterior proporcionava um alto coeficiente de importação e a possibilidade de
implantação de algumas indústrias. A demanda por bens industrializados era
atendida por meio da produção nacional ou internacionais. Faltava à indústria
nacional dinâmica suficiente para romper com o isolamento e conquistar o
mercado interno para si, com exceção de São Paulo. A Primeira Guerra Mundial
estancou as importações e deu a oportunidade de SP usar o excesso de produção
para comercializar com o resto do país. Apesar disso, o estado não escapou da
crise de superacumulação gerada pela crise da valorização cambial entre 1924 e
1926 que diminuiu a proteção à indústria e permitiu a entrada de produtos
estrangeiros reduzindo o mercado das indústrias nacionais; além dos problemas
gerados pela superprodução do café que inviabiliza os financiamentos dos
estoques invendáveis.
A década de 1920, ao mesmo tempo, é
marcada pela diversificação do setor de bens de consumo e de produção que dá
condições para uma formação industrial mais ampla a partir da crise de 1929. A
indústria registra, contudo, crises de sobreinversão e de exportação mesmo com
coeficientes de exportação altos no país, a capacidade ociosa continuava alta.
A solução apontada pelo autor seria uma maior autonomia para a reprodução
ampliada da indústria. Contudo, junto da crise ocorre um ganho de desenvoltura
nos bancos de capital nacional e incremento da rede ferroviária que ajudaria na
integração do mercado nacional, além de reformulações no Estado frente à
pressões setoriais e a favor de questões sociais envolvendo assalariados. Em São Paulo a agricultura registrava crescimento
do café e de outros produtos, com alargamento de sua fronteira agrícola.
marcada pela diversificação do setor de bens de consumo e de produção que dá
condições para uma formação industrial mais ampla a partir da crise de 1929. A
indústria registra, contudo, crises de sobreinversão e de exportação mesmo com
coeficientes de exportação altos no país, a capacidade ociosa continuava alta.
A solução apontada pelo autor seria uma maior autonomia para a reprodução
ampliada da indústria. Contudo, junto da crise ocorre um ganho de desenvoltura
nos bancos de capital nacional e incremento da rede ferroviária que ajudaria na
integração do mercado nacional, além de reformulações no Estado frente à
pressões setoriais e a favor de questões sociais envolvendo assalariados. Em São Paulo a agricultura registrava crescimento
do café e de outros produtos, com alargamento de sua fronteira agrícola.
A
controvérsia sobre a crise de 1929 no Brasil e sua recuperação
controvérsia sobre a crise de 1929 no Brasil e sua recuperação
Cano diz acreditar que no final da
década de 1920 as condições econômicas no Brasil estavam amadurecidas para
pressionar a sociedade a superar as crises que caiam sobre a economia. O autor
vai além. Ele afirma que não foi a crise internacional que promoveu a
transformação interna, só reforçou um processo que já estava em marcha. Apesar
das pressões existentes o Brasil apenas consegue romper com a inércia dos
países que seguiam as determinações norte-americanas por meio da política de
Getúlio Vargas. As políticas de valorização do café e, posteriormente, e a
política de defesa permanente asseguraram, por meio da manutenção e crescimento
das taxas de lucro, até os primeiros anos de 1930 a acumulação no próprio setor
cafeeiro dadas as barreiras dos investimentos na indústria pesada e a crise de
sobreinversão industrial. O problema foi a superprodução que, nos primeiros
biênios da década de 1930 bateram recordes. Os efeitos da crise, no entanto,
prejudicaram o respaldo estatal aos cafeicultores. São Paulo, porém, não
passaria pela mesma crise que os outros estados por conta da estrutura
diferenciada em relação ao resto do país, como aponta Cano. “Suas estruturas
produtivas, escalas de operação bem como suas relações sociais de produção
apresentavam acentuados graus de diferenciação” (p. 96)
década de 1920 as condições econômicas no Brasil estavam amadurecidas para
pressionar a sociedade a superar as crises que caiam sobre a economia. O autor
vai além. Ele afirma que não foi a crise internacional que promoveu a
transformação interna, só reforçou um processo que já estava em marcha. Apesar
das pressões existentes o Brasil apenas consegue romper com a inércia dos
países que seguiam as determinações norte-americanas por meio da política de
Getúlio Vargas. As políticas de valorização do café e, posteriormente, e a
política de defesa permanente asseguraram, por meio da manutenção e crescimento
das taxas de lucro, até os primeiros anos de 1930 a acumulação no próprio setor
cafeeiro dadas as barreiras dos investimentos na indústria pesada e a crise de
sobreinversão industrial. O problema foi a superprodução que, nos primeiros
biênios da década de 1930 bateram recordes. Os efeitos da crise, no entanto,
prejudicaram o respaldo estatal aos cafeicultores. São Paulo, porém, não
passaria pela mesma crise que os outros estados por conta da estrutura
diferenciada em relação ao resto do país, como aponta Cano. “Suas estruturas
produtivas, escalas de operação bem como suas relações sociais de produção
apresentavam acentuados graus de diferenciação” (p. 96)
Celso Furtado coloca a intervenção do
Estado na queima de sacas de café para sustentação da economia cafeeira por meio
de financiamento através de crédito público. A questão do crédito foi alvo de
críticas a Furtado. Um dos autores, Peláez alega que o recurso para esse
mecanismo viera de impostos sobre exportações e não do crédito. Além disso,
esse autor ortodoxo afirma que o responsável pelo déficit público se deu por
conta das despesas do governo com a Revolução de 1932 e não por causa do
financiamento do café. As críticas a Furtado são desfeitas por autores como
Fishlow, Silber e pelo próprio Cano que contrapõe dados do saldo de papel-moeda
e do orçamento do governo do período analisado por Peláez com um período maior
que Cano usa para desmontar a argumentação do crítico de Furtado.
Estado na queima de sacas de café para sustentação da economia cafeeira por meio
de financiamento através de crédito público. A questão do crédito foi alvo de
críticas a Furtado. Um dos autores, Peláez alega que o recurso para esse
mecanismo viera de impostos sobre exportações e não do crédito. Além disso,
esse autor ortodoxo afirma que o responsável pelo déficit público se deu por
conta das despesas do governo com a Revolução de 1932 e não por causa do
financiamento do café. As críticas a Furtado são desfeitas por autores como
Fishlow, Silber e pelo próprio Cano que contrapõe dados do saldo de papel-moeda
e do orçamento do governo do período analisado por Peláez com um período maior
que Cano usa para desmontar a argumentação do crítico de Furtado.
Cano ainda refuta as críticas de Peláez
argumentando a favor da questão da transferência de renda do café para a
indústria e do saldo da balança comercial durante a depressão. Sobre o primeiro
ponto o autor cita Furtado e explica que a baixa na rentabilidade do café
tornou infundável a manutenção de inversões ou reinversões de capital neste
setor e trata como evidente o fato do surgimento de um novo canal, pela
indústria ou em outros setores agrícolas, para a reprodução do capital. Peláez
argumenta que o surgimento da indústria se deu por meio de capitais nacionais e
estrangeiros não originários do café.
argumentando a favor da questão da transferência de renda do café para a
indústria e do saldo da balança comercial durante a depressão. Sobre o primeiro
ponto o autor cita Furtado e explica que a baixa na rentabilidade do café
tornou infundável a manutenção de inversões ou reinversões de capital neste
setor e trata como evidente o fato do surgimento de um novo canal, pela
indústria ou em outros setores agrícolas, para a reprodução do capital. Peláez
argumenta que o surgimento da indústria se deu por meio de capitais nacionais e
estrangeiros não originários do café.
Já sobre o segundo ponto, Cano
contra-argumenta a posição do crítico de que o saldo positivo da balança
comercial ter sido o responsável pela recuperação da crise internacional. Para
o autor foram determinantes internos que tiraram o país da crise uma vez que é
preciso se atentar ao total das exportações atuando sobre a demanda efetiva e
não apenas para os saldos da balança comercial.
contra-argumenta a posição do crítico de que o saldo positivo da balança
comercial ter sido o responsável pela recuperação da crise internacional. Para
o autor foram determinantes internos que tiraram o país da crise uma vez que é
preciso se atentar ao total das exportações atuando sobre a demanda efetiva e
não apenas para os saldos da balança comercial.
Elementos que contribuíram para a rápida
recuperação da economia: impostos que bloquearam a expansão de novas
plantações; imposto em espécie e posteriormente em shillings sobre as sacas
exportadas para financiar a compra de café para ser destruído; rígido controle
de estoques; e a sustentação máxima do preço interno aliada ao financiamento da
operação com recursos públicos e o constante déficit no orçamento do Estado
foram medidas anticíclicas, evitando queda da demanda efetiva e reativando a
produção graças à capacidade ociosa. Cortes das importações e pesada
desvalorização cambial em 1931 abrandaram a crise industrial. São elementos que
compuseram as condições para que, segundo Cano, se altere o antigo padrão de
acumulação e, a partir desse momento, a indústria se torna o carro chefe da
economia. É o que Furtado chama de “deslocamento do centro dinâmico”.
recuperação da economia: impostos que bloquearam a expansão de novas
plantações; imposto em espécie e posteriormente em shillings sobre as sacas
exportadas para financiar a compra de café para ser destruído; rígido controle
de estoques; e a sustentação máxima do preço interno aliada ao financiamento da
operação com recursos públicos e o constante déficit no orçamento do Estado
foram medidas anticíclicas, evitando queda da demanda efetiva e reativando a
produção graças à capacidade ociosa. Cortes das importações e pesada
desvalorização cambial em 1931 abrandaram a crise industrial. São elementos que
compuseram as condições para que, segundo Cano, se altere o antigo padrão de
acumulação e, a partir desse momento, a indústria se torna o carro chefe da
economia. É o que Furtado chama de “deslocamento do centro dinâmico”.
Aspecto contraditório do processo de
substituição de importações:
substituição de importações:
11)
a
contração da capacidade para importar reduziu as importações de bens de
consumo;
a
contração da capacidade para importar reduziu as importações de bens de
consumo;
22)
isso,
junto com a política de sustentação do nível da renda, permitiu à indústria
utilizar mais sua capacidade produtiva ampliando sua produção;
isso,
junto com a política de sustentação do nível da renda, permitiu à indústria
utilizar mais sua capacidade produtiva ampliando sua produção;
33)
o
maior nível de atividade industrial reclama maior uso de matérias-primas,
combustíveis e bens de capital;
o
maior nível de atividade industrial reclama maior uso de matérias-primas,
combustíveis e bens de capital;
44)
essa
demanda derivada pressionará ainda mais a capacidade para importar e o balanço
de pagamentos;
essa
demanda derivada pressionará ainda mais a capacidade para importar e o balanço
de pagamentos;
“Recapitulemos
as pré-condições para o novo padrão. O capitalismo brasileiro nasceu com o
assalariamento da economia cafeeira do Oeste Paulista, em meados da década de
1880. Deu importante passo desde o final do século e, principalmente, nos
períodos 1905-1913 e 1920-1925, quando o investimento industrial sobrepassou de
muito a demanda então específica da indústria nacional. O setor cafeeiro
superacumulou capacidade produtiva principalmente na segunda metade da década
de 1920; o de transporte ferroviário e o de cabotagem praticamente estavam
implantados já antes de 1930; o bancário nacional já sobrepassara o movimento
dos bancos estrangeiros instalados no país e mostrava plenas condições para uma
decisiva expansão, que ocorreria nas décadas de 1930 e de 1940. Quanto ao
Estado, também já dera algumas demonstrações de capacidade de intervir na
economia, experiência que lhe seria bastante útil após 1929” (p. 106)
as pré-condições para o novo padrão. O capitalismo brasileiro nasceu com o
assalariamento da economia cafeeira do Oeste Paulista, em meados da década de
1880. Deu importante passo desde o final do século e, principalmente, nos
períodos 1905-1913 e 1920-1925, quando o investimento industrial sobrepassou de
muito a demanda então específica da indústria nacional. O setor cafeeiro
superacumulou capacidade produtiva principalmente na segunda metade da década
de 1920; o de transporte ferroviário e o de cabotagem praticamente estavam
implantados já antes de 1930; o bancário nacional já sobrepassara o movimento
dos bancos estrangeiros instalados no país e mostrava plenas condições para uma
decisiva expansão, que ocorreria nas décadas de 1930 e de 1940. Quanto ao
Estado, também já dera algumas demonstrações de capacidade de intervir na
economia, experiência que lhe seria bastante útil após 1929” (p. 106)