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Anotações das aulas de Desenvolvimento Sócio-econômico: A teoria do subdesenvolvimento – revisão

4.a) Origem da teoria e seus determinantes
A teoria do
subdesenvolvimento surge no pós-1945 e toma força na década de 1950 marcando um
retorno à problemática da economia política clássica. Os neocássicos discutiram
teorias da produção e teorias do consumo; os indivíduos para eles são
maximizadores de lucros; trabalha com a escassez de bens e fatores; usam a
ciência para uma distribuição ótima desses bens escassos.
Para Keynes o
investimento é a variável central. Ele considera o efeito multiplicador do
investimento, a poupança como sendo ex-post; para o investimento há o mercado
de crédito – portanto ele não depende da poupança; e há inflação próximo do
pleno emprego.
Já na teoria
do subdesenvolvimento a variável central é o consumo. O efeito multiplicador não e aplica e essas economias
atrasadas não têm mercado de crédito, por isso a poupança é importante para
determinar o investimento. Como a mão de obra é abundante e desorganizada, não
há inflação.  Pontos que marcam um
resgate da economia clássica pelos teóricos do desenvolvimento:
“A escola
clássica de pensamento econômico, que se seguiu aos mercantilistas, tinha,
segundo Marx, um elemento analítico unificador: o conceito de excedente,
fundamental para se determinarem variáveis econômicas como distribuição de
renda, preços relativos e acumulação de capital. (…) Assim, no componente
analítico central da escola clássica fica explícita a preocupação com a questão
do desenvolvimento das forças produtivas e sua ligação direta com a teoria da
distribuição dos preços” (8-9)
O Estado
volta à discussão com um papel fundamental. Na Rússia os planos quinquenais
mostram que é importante o planejamento econômico; a crise de 1929 também
ressalta a importância de políticas de estabilização fiscal e monetária.
No pós-guerra
o papel central do Estado também é reforçado pela influência da União Soviética
com as revoluções socialistas e os investimentos feitos no exterior – pontos
que alertam os Estados Unidos. Além disso esse período é marcado por uma
descolonização da África e da Ásia e os seus futuros posicionamentos políticos
também chama a atenção do mundo bipolar. O Estado também é chamado para
investir na reconstrução da Europa e na coordenação dessas aplicações. Ademais,
o pós-guerra reforça as diferenças entre os países industrializados e os
agrícolas. Esses pontos são explorados por Bastos & Brito (2010):
“A crise do
entre guerras e a própria organização da vida econômica nos diversos países
enfraqueceram o dogma liberal do século XIX” (p. 8)
“Um primeiro
elemento central foi o próprio fim da era liberal, sob a égide da Inglaterra do
século XIX, após a eclosão da Primeira Guerra Mundial, ou, para usar o título
de um texto clássico de Keynes, ‘o fim
do laissez-faire’
. (…) Na década de 1930 rompe-se definitivamente o
padrão de comércio internacional que, supostamente, estava na base da ordem
liberal. Surge, então, uma estrutura de comércio autárquica, marcada pelo
nascimento de blocos de países, e a ideia de um Estado mínimo é substituída pela
de um Estado ativo e interventor, com o abandono paulatino da obsessão por
‘finanças saudáveis’, ou seja, equilíbrio orçamentário.” (p. 10)
“Outro fator
ocorrido no entre guerras, que teve forte influência sobre o ambiente intelectual
do após-guerra, foi o padrão de
intervenção e planejamento econômico
da ex-União Soviética. (…) A ruptura
do padrão de intervenção pública na economia se aprofundou durante a Segunda
Guerra Mundial. As economias nacionais passaram a funcionar em situação de
esforço de guerra, com alto grau de intervencionismo, conferindo ao
planejamento um caráter científico e sistemático. Na política econômica, tais
experiências consolidam a revolução keynesiana. (…) A obra de Keynes era
interpretada, corretamente, como centrada em questões de curto prazo, ou nas
flutuações econômicas, e não no desenvolvimento. Mesmo se fosse estendida para
o longo prazo não daria conta das questões relevantes para os países
subdesenvolvidos.” (10-11)
“O movimento de descolonização, ocorrido
na Ásia e na África, foi outro elemento de grande importância geopolítica na
criação de um clima favorável a teorias políticas de desenvolvimento econômico.
O surgimento das novas nações tornou necessárias políticas específicas para
elas. (…) os Estados Unidos, para concorrer ideológica e politicamente com a
União Soviética, se veem quase compelidos a estimular a elevação do padrão de
vida dos países a fim de afastá-los da ‘tentação’ socialista (estratégia Truman
com o Plano Marshal; Programa Ponto IV)” (11)
“Finalmente,
embora não explicitamente, um elemento crucial que está por trás  da agenda desenvolvimentista do período e a questão da convergência. Observando o
crescimento da economia de uma perspectiva de longo prazo, pode-se observar que
o padrão do crescimento da renda per capita se altera a partir da expansão do
capitalismo. (…) Esse crescimento ‘intensivo’ foi desigual, pois o
crescimento de países e mesmo regiões mundiais ocorreu em velocidades muito
distintas, produzindo um distanciamento nas respectivas rendas per capitas
(divergências regionais)” (12)
“Outro
argumento, proposto por Prebisch (1949), (…) também reforçava a ideia de que
o livre comércio internacional dificilmente poderia exercer uma força propulsora na economia internacional.
(Ele cita o caso da economia dos Estados Unidos que não estimulou arranjos
dinâmicos e complementares no comércio exterior)” 13
4.b) Conceitos de subdesenvolvimento
Os conceitos
de subdesenvolvimento para os teóricos do desenvolvimento são distintos. Bastos
e Brito, citam como exemplo Myint que considera as comparações com padrões de
consumo externos como influência para a definição de economia atrasada; Lewis
que admite uma heterogeneidade industrial entre o setor moderno mais
capitalizado e um dominado pela produção para subsistência, com baixa
produtividade e excedente estrutural de mão-de-obra; e Kuznets que considera
que “a tensão nos países subdesenvolvidos é gerada pelo conhecimento do sucesso
em outras partes do mundo” (p. 17).
Outro
conceito de subdesenvolvimento apresentado por Bastos e Brito é o de Nurkse:
“O subdesenvolvimento caracteriza-se por dois círculos viciosos. Por um
lado, nos países atrasados a baixa renda deve-se à baixa produtividade,
determinada pela escassez de capital. Esta, por sua vez, eplica-se pela baixa
capacidade de investir, derivada da baixa poupança, decorrente do baixo nível
de renda, ou seja, da limitada dimensão
do mercado. Contudo, o tamanho
do mercado depende crucialmente da produtividade, que é função do uso
de capital, que é determinado, no nível do empresário individual, pelo tamanho do mercado.” (27)
Nurkse e
Rosenstein-Rodan identificam o subdesenvolvimento com economias ainda agrárias.
Lewis (1956)
analisa o excedente e quebra o postulado neoclássico que diz que os bens são
escassos. Ele critica Keynes e a noção de oferta escassa de mão-de-obra – para
ele nos países atrasados a oferta é ilimitada. Por conta disso não se considera
a produtividade marginal do trabalho e os rendimentos crescentes, ao contrário,
pode se aumentar o capital na mesma proporção do trabalho e por isso os
rendimentos podem ser crescentes. Fica a questão, então, de como esse excedente
será distribuído. Para ele, subdesenvolvida é uma economia híbrida com dois setores. É o primeiro que pensa em um
modelo de desenvolvimento.
Rostow (1958)
estuda a relação entre a poupança e a decolagem (o take-off); ele diz que os
países passam por fases/etapas e seu estudo está em como fazer os países
subdesenvolvidos decolarem como fez os desenvolvidos. Os modelos keynesiano e
neoclássico são válidos apenas para economias maduras e por isso ele pensa que
todas devem passar pelas mesmas etapas – a última fase é a sociedade de consumo
de massas. O subdesenvolvimento é sinônimo de tradicional.
Furtado já
estuda, no contexto da Cepal, as políticas anticíclicas e diz que elas não são
validas para todos os países; o mais importante são políticas monetárias e
Estado condizente com essas políticas.
Prebisch
destrói a ideia de convergência na teoria das vantagens comparativas e diz que
sempre haverá distinções entre centro e periferia.
4.c) Elementos analíticos da TDE
Apesar das
divergências de opiniões, há três elementos analíticos centrais da Teoria do
Desenvolvimento Econômico: poupança,
comércio exterior e externalidades.
O conceito de
poupança é igual ao da teoria
clássica: um resíduo do consumo que determinará o investimento, como definiu
Say. É dentro desta discussão é que é abordada a propensão a consumir, o desejo
de consumir como países desenvolvidos e este é um ponto que não há divergências
entre muitos teóricos
“já que decorre diretamente da opção teórica de retorno ao pensamento
clássico, no qual a velocidade da acumulação, ao contrário do modelo canônico
neoclássico, se relaciona diretamente com a capacidade de poupar ou com a
parcela do excedente que não é consumida (no caso dos clássicos, especialmente
em Ricardo, a parcela do produto depois de descontada aquela destinada ao
salário de subsistência e à renda dos proprietários de terra).” 18
Esse tema ainda abre espaço para
outros debates. Um deles é sobre a renda da economia, se for muito baixa o país
pode ter uma carência de poupança e mesmo que se poupe o valor é baixo demais
para as compras de bens de capitais. Um exemplo desse debate está em Furtado
que diz que “80% ou mais da população ativa trabalha para satisfazer as
necessidades de alimentação ou vestuário da coletividade” (p. 18) Outro
teórico, Rostow, analisa a relação entre poupança e decolagem, por exemplo, e a
necessidade de romper a barreira de uma popança que corresponda a pelo menos 5%
da renda da economia. Outro ponto de debates relacionando a poupança é uma
oposição entre consumo e poupança. O principal teórico a discursar sobre esse
ponto é Nurkse que expõe o conceito de efeito
demonstração.
“Esse debate teve origem nos ‘surpreendentes resultados dos estudos de
Kuznets sobre a propensão a poupar no após-guerra, que regutavam empiricamente
a hipótese keynesiana de que a propensão a poupar aumentaria com o crescimento
da renda da sociedade. O crescimento da renda dos mais pobres não aumentaria
sua propensão a poupar, pois estes estariam sob a influência de padrões de
consumo mais sofisticados. Em consequência, não se elevaria a propensão a
poupar agregada da economia. (…) Nurkse afirma que a tendência quase
inevitável de disseminação de padrões mais sofisticados, à medida que ocorresse
o processo de desenvolvimento, avabaria por criar problemas de poupança: ‘No
plano internacional, o contato com padrões de consumo superiores dá asas à
imaginação, criando novas necessidades’” (p. 20)
Paul Singer,
na introdução do livro publicado pela Abril Cultural com a obra de Ricardo, faz
uma consideração interessante sobre padrões de consumo de países desenvolvidos:
“Em geral, os que pregam o
livre-cambismo não consideram o fato de que há grandes diferenças entre os
níveis de desenvolvimento das forças produtivas dos diversos países e que os
países mais desenvolvidos impõem aos menos desenvolvidos os termos do
intercâmbio. Os países mais adiantados exportam novos padrões de consumo aos
outros países e dessa maneira criam demanda por seus produtos e, ao memo tempo,
estimulam a produção, no resto do mundo, dos artigos que lhe interessam.”
(SINGER In: RICARDO, p. XXIV)
A
consequência da falta de poupança apontada por Bastos e Brito é “um
arrefecimento, ou limitação, do próprio crescimento (…): um bloqueio à
industrialização” (21)
Na discussão
sobre comércio exterior os teóricos
rompem com a teoria ricardiana das Vantagens Comparativas – principalmente
Lewis e Prebisch. Estabalecem o conceito de deterioração dos termos de troca que diz que os produtos primários
têm uma tendência a terem valores muito menores que os industrializados, além
do que os primários também não têm elasticidade-renda, ou seja, não têm aumento
de consumo quando há uma aumento na renda. O comércio exterior também aumenta
as disparidades entre os países e uma das melhores estratégias é a da
substituição das importações, proposta principalmente por Prebisch.
Já na questão
das externalidades, há definições
distintas e complementares entre os autores estudados, mas são consideradas
extremamente importantes para o desenvolvimento. Bastos e Brito mencionam que
as externalidades são um dos principais pontos de ruptura da teoria do desenvolvimento;
o conceito é uma “pedra fundamental”. Grandes investimentos coordenados de uma
só vez, os chamados “big push”, ao
contrário dos marginalistas que defendiam gradualismos nessa área, são
considerados por esses teóricos. A intervensão do Estado é necessária para se
garantir retornos ou lucros sociais maiores que os privados. Rosenstein-Rodan defende
esses grandes investimentos coordenados pelo Estado e defende que é preciso
existir três indivisibilidades para
originarem as economias externas: tanto do lado da oferta, da demanda e da
oferta de poupança; são importantes por criar diversidade nos investimentos
privados e uma complementaridade do
investimento
. As indivisibilidades de Rosenstein-Rodan são resumidas da
seguinte forma:
“(a) do lado da oferta,
indivisibilidades da função de produção, particularmente do capital social;
este deve preceder o investimento produtivo, criando necessariamente capacidade
ociosa; (b) indivisibilidades da demanda,
ligando-se à ideia de que as decisões de investimento são interdependentes, o
que oferece risco a um investido individual; nesse ponto, Rosenstein-Rodan cita
o exemplo da fábrica de sapatos que não pode gerar sozinha um mercado
consumidor; (c) invisibilidades da
oferta de poupança
.” (p. 26)
 Para Rosenstein-Rodan, mais importante que
criar uma única indústria que abrace toda a mão-de-obra vinda do campo é a
criação de um sistema de indústria onde os trabalhadores empregados são o seu
próprio mercado – uma visão totalmente clássica da Lei de Say de que a produção
gera a própria demanda.
Nurkse já
fala sobre a coordenação de
investimentos
para gerar demanda interna suficiente para se deslanchar um
processo agregado de investimentos.
Um ponto de
vista diferente dos dois autores já abordados é o de Hirshman e o conceito de desenvolvimento desequilibrado.
“Para ele, (…) o processo de desenvolvimento consiste em criar
deliberadamente desequilíbrios que amplifiquem as externalidades criadas por
projetos de investimento complementares, as quais ele chama de poder indutor do investimento. O autor
propõe que os encadeamentos setoriais,
para a frente e para trás, devem ser considerados na escolha criteriosa da sequência dos investimentos em países
subdesenvolvidos” (p. 29)
4.1)
4.1.1)
Rosenstein-Rodan
Para
Rosenstein-Rodan a economia externa tem ligação com indivisibilidade, ideia oposta aos conceitos marginalistas. Os
investimentos não são divisíveis e deve-se pensar em todas as economias que ele
irá criar: “Se criarmos uma unidade de investimento suficientemente grande,
incluindo todas as novas indústrias da região, as economias externas se
converterão em lucros internos” (p. 270)
Tipos de
economia externa:
1a)     
Marshaliana, que reduz custos, quando todas as empresas
se beneficiam como um todo com essa redução de custos inicial;
2b)     
Economias externas de mercado, definida por Young em
1929, são divididas em horizontais e verticais. Horizontais por influenciaram a
criação de novas empresas no mercado, geralmente de bens complementares – o
exemplo clássico é a fábrica de sapatos que incentiva a criação de fábricas de
meias, calças e etc. E as verticais estão relacionadas á cadeia produtiva de um
bem – beneficiamento de couro, propaganda dos sapatos e etc;
3c)     
Economia externa de encadeamento na qual uma inovação
engendra outra inovação. O desequilíbrio caracteriza o processo de
desenvolvimento – ideia defendida por Hirshman.
Rodan fala
das suas indivisibilidades, (de oferta, de demanda e de poupança), conceito que
se opõe aos marginalistas, pois esse autor desenvolvimentista acredita que os
investimentos não são divisíveis e devem ser pensados de uma só vez – inclusive
a poupança. O projeto de desenvolvimento deve pensar o conjunto e ser feito
todo ao mesmo tempo e controlado pelo Estado. Essa será uma forma de garantir
que o lucro social seja maior que o privado. Essa é uma característica
fundamental do desenvolvimento
equilibrado
.
O truste (na forma de um conselho de
planejamento) é uma forma de pensar o desenvolvimento para o Leste e Sudeste
Europeus (objeto de sua teoria). Ela é uma instituição formada por burocratas
responsável pelo desenvolvimento do país atrasado. O Estado é o principal
agente dessa organização. Como suas palavras são uma teoria, o truste seria o
ideal, mas nunca existiu e é apenas uma expressão de uma coordenação entre
Estados.
Para o
desenvolvimento equilibrado pensa-se as economias externas horizontais e verticais.
O Estado precisa coordenar esses investimentos para assegurar que haja
equilíbrio para haver empresas que se beneficiam do lucro de outras empresas
tanto por meio da criação de novos mercados (economia horizontal) quanto com os
encadeamentos (vertical).
O processo de
passagem de uma sociedade atrasada para uma desenvolvida é o desenvolvimento
equilibrado. Consenso geral entre os autores desenvolvimentista é a importância
da industrialização para a superação do atraso.
País atrasado
é associado com agrário para Rodan,
além de ter uma oferta estrutural de mão de obra para desenvolver ou tirar o
povo do campo ou levar capital para a população. Em seu texto ele analisa duas
formas de se fazer a industrialização: (a) a primeira é com uma economia
fechada, nos moldes russos – “objetivando a autossuficiência e em investimento
internacional” (Rodan, p. 266) – e a outra (b) é o modelo aberto, um
ajustamento à economia mundial. Em uma forma fechada tem-se um Estado arcando
com a industrialização, mas a questão é como gerar capital para bancar essa
indústria. É preciso aumentar a poupança e o maior sacrifício é em relação ao
consumo, que deve ser mantido o mesmo e ser taxado para gerar esse capital.
As
desvantagens dessa forma fechada é que a economia cresce lentamente, os
impactos da divisão internacional do trabalho não são sentidos e essa economia
perde oportunidades de se especializar adotando a ideia de Smith e não a de
Ricardo e das vantagens comparativas. Há também desperdícios de recursos e as
indústrias de base trabalhariam com uma capacidade ociosa muito grande ao não
poder se relacionar com o exterior para vender seu produtos e compensar essa
ociosidade. Outro ponto negativo colocado por Rodan é o de que um modelo
fechado cria uma “unidade independente na economia mundial, implicando redução
da divisão internacional do trabalho – isto é, a produção do mundo como um todo
seria menor do que poderia ser, e o mundo estaria mais pobre em termos de bens
materiais” (Rodan, p. 266)
Já na forma
aberta, os investimentos encontram caminho pelo crédito organizado pelo Estado.
O dinheiro desse crédito vem de investidores internacionais e permite-se o
contato com a divisão internacional do trabalho. Diferente do modelo fechado,
não haveria desperdício de recursos permitindo a importação de máquinas e
insumos. Na verdade não há desvantagens no modelo aberto. Uma primeira vantagem
seria um progresso mais rápido, outra é a oportunidade de essa economia ser
suprida por indústrias pesadas de outros países num caso de expansão da
economia mundial. [Isso não é indiretamente parecido com a teoria ricardiana?]
Em relação ao
século XIX, há algumas características adicionais que ajudam os países
subdesenvolvidos:
a)     
Liquidação do
investimento
: “o investimento internacional no século XIX era, em grande
parte, liquidado automaticamente, pois era baseado na troca de produtos
agrícolas e industriais. Atualmente, já não é mais possível esperar que essa
liquidação seja ‘automática’” (p. 267);
b)     
Investimentos
eram pontuais (o capital se dirige
geralmente para empresas isoladas), deve-se pensar na interdependência e
complementaridade dos investimentos o que não ocorreu no passado;
c)     
As técnicas
já é dada, enquanto no século XIX havia
grande concorrência pela tecnologia e “o progresso técnico foi a principal força
propulsora no século XIX” (p. 267);
d)    
Escalas e tamanho
médio das empresas era menor: “o aumento dos custos fixos e
das inversões de capital desde o século XIX tem ampliado o risco de perda do
capital e diminuído a mobilidade dos
recursos
e a flexibilidade do
sistema econômico” (267)
e)     
Riscos políticos
em relação ao crédito eram menores antigamente e no século XX o Estado precisou
garantir a credibilidade dos países para receber investimentos;
f)      
Miséria: as
pessoas não aceitam mais viver em condições miseráveis.
Os países
subdesenvolvidos precisam contar também com mudanças institucionais e Rodan propõe argumentos positivos para a
criação de um truste industrial para a realização da coordenação dos
investimentos e mudanças na economia. A educação
ou treinamento da mão de obra é um ponto citado por Rodan. Segundo ele pode não
ser interessante para um empresário investir em um operário por conta do risco
de ele perder esse investimento caso o funcionário mude de empresa. Por conta
disso essa educação deve ser dada pelo Estado ou pelo truste que ele propõe que
tem condições de arcar com gastos altos relacionado ao treinamento de vários
funcionários e as perdas micro seriam mínimas e suportáveis.
Outro ponto
defendido pelo autor é a “complementação das diferentes indústrias”. A ideia é
de investimentos em indústrias complementares:
“As indústrias que produziriam o grosso dos bens a serem adquiridos com
salários poderiam ser chamadas, portanto, de complementares. A criação
planejada de um sistema de indústrias complementares desse tipo reduziria o
risco de insuficiência da procura e, como o risco pode ser considerado um
curso, reduziria os custos.” ( 269)
Aliado a esse
ponto, Rodan considera que é facilmente previsível quais serão os bens que os
trabalhadores tirados do campo irão consumir quando virarem assalariados da
indústria.
Um
contraponto claro à teoria de Keynes é feita por Rodan quando ele consideram
que as decisões de investimento dos empresários de uma economia subdesenvolvida
não podem ser feitos com base nas experiências do passado. Os conhecimentos do
empresário individual são muito limitados, por conta disso cabe ao truste de
empresas, que tem dados suficientes, determinar quais são os investimentos.
4.1.2) Nurkse
A
problemática para Nukse é a formação de
capital
nos países subdesenvolvidos. Na sua primeira conferência ele mostra
os empecilhos para o desenvolvimento e mostra que um dos problemas é o tamanho do mercado. Já na terceira
conferência, que continua abordando questões internas do país, Nurkse vai falar
sobre como formar o capital.
No geral o
atraso para esse autor está relacionado com o problemas de formação de capital.
Rodan defendia um desenvolvimento equilibrado e identificava o
subdesenvolvimento com a oferta estrutural de mão de obra. Para Rodan, há dois
caminhos para o desenvolvimento: o baseado numa economia fechada e outro numa
aberta. Seu desenvolvimento é equilibrado e está embasado nas economias
externas e nos investimentos indivisíveis. Para Nurkse o desenvolvimento também
deve ser equilibrado.
Na
conferência de Nurkse, as pessoas de economias atrasadas vivem muito próximas
da subsistência, o que não permite resíduos do consumo para a formação de
poupança; Há duas considerações sobre a formação de capital: em países populosos
e em países esparsamente populosos – cada um deles requer uma estratégia
diferente.
Para Nurkse a
questão do desenvolvimento não depende do desenvolvimento tecnológico. Ele
pensa em bens materiais: máquinas e ferramentas usadas na produção junto do
método de forma organizada – é então uma produção organizada. Uma mudança
tecnológica para ele é a mudança de instrumentos diferentes e mais modernos
para se dispender menos trabalho.
Quando Nurkse
critica o tamanho dos mercados, ele se refere à renda dessa economia ligada aos
salários e à produtividade. O que determina um mercado pequeno e estreito é a baixa produtividade. Os ciclos viciosos de Nurkse estão
relacionados com o problema de oferta de capital (da pobreza) e da demanda de
capital (da estagnação). Os dois ciclos se encontram na baixa produtividade.
Com pouca produção há pouco excedente e baixos salários; pouca poupança e
mercado estreito e pequeno refletem baixa formação de capital e pobreza.
 O problema principal é o pouco capital para
muita população. Os países subdesenvolvidos são estagnados e pobres.
Aumentaria-se a renda pelo aumento da produtividade, porém há o problema de
oferta de capitais por conta do consumo muito alto e pouca formação de capital
– pouca poupança seguindo a lógica clássica.
A teoria do
desenvolvimento tem de se preocupar em como irá romper esses ciclos viciosos
resolvendo o problema da formação de capital e consequentemente o da baixa
produtividade para a superação do atraso. O aumento da produtividade pode
acontecer quando se realiza um conjunto de investimentos, assim como propôs
Rodan.
Ao falar
sobre políticas públicas, Nurkse ressalta que deve ser feito a tributação pelo
consumo.
Em países
populosos é preciso investir na técnica:
remover parte da população do campo para produção de bens de produção num
segundo setor usando técnicas já dadas. Já nos países esparsamente populosos, é
preciso desenvolvimento tecnológico
a fim de diminuir o trabalho no campo que concentra a mão de obra e liberar
trabalhadores para a formação do segundo setor, de bens de capital. Os
trabalhos desse segundo setor são simples num primeiro momento, consiste na
produção de instrumentos básicos para a produção agrícola, por exemplo pás e
enxadas.
4.1.3) Albert
Hirshman
Nascido em
1915 é o autor de “Estratégias de desenvolvimento econômico”, publicado em
1958. Para ele não há escassez de nenhum fator, mas há problemas de
investimento nestes países subdesenvolvidos – as decisões de investimento
envolvem outras questões como racionalidades ocultas que não são presentes nas
economias desenvolvidas. Hirshman é o primeiro autor que volta a pensar a
variável Investimento como a central, mas não com as mesmas considerações
feitas por Keynes. Hirshman se opõe ao desenvolvimento equilibrado. Para ele
essa estratégia de desenvolvimento pensa as economias externas e desconsideram
as deseconomias externas.
Seu conceito
central é a ideia de encadeamentos. Há uma relação entre infraestrutura e
estruturas produtivas. Esses encadeamentos podem ser para traz ou para frente.
Cada país precisa perceber quais setores precisa investir e desencadear esses
encadeamentos.
O subdesenvolvimento
não está na escassez de fatores, mas na má organização desses fatores. A
superação do atraso está em solucionar os problemas com as racionalidades
ocultas específicas de cada país. Outro problema é a ausência de decisões de
investimentos. Muito influenciado por Schumpeter, ele pensa que é a classe
capitalista que levará o desenvolvimento a cabo e o investimento privado deve
ser central nessa economia.
A dificuldade
em se tomar decisões de investimento está em descobrir quais são as reais necessidades
dessas economias para propiciar esses investimentos. Ou seja, deve-se descobrir
quais são as racionalidades ocultas desse país.
Como nos
outros autores, o desenvolvimento está ligado à industrialização. A diferença é
que o desenvolvimento deve ser desequilibrado porque é pelos desequilíbrios que
surgem e são descobertas novas racionalidades pelas classes investidoreas.
O desemprego
disfarçado também é considerado por Hirshman. Nem sempre se consegue empregar
toda a mão de obra e a economia continua com setores arcaicos e modernos
convivendo juntos.
O papel do
Estado é investir em áreas em que a produtividade marginal do trabalho seja
atrasada, como nos setores de infreaestrutura (transporte, energia e indústria
de base).
Hirshman
propõe uma teoria do desenvolvimento. Ele leva em conta o problema das
racionalidades ocultas, as especificações de cada país e as instituições neste
processo e também a forma como esse desenvolvimento será feito, ou os meios
para se chegar ao desenvolvimento. Há contradições entre os meios e o fim.
Exemplo disso é a diminuição do consumo num promeiro momento; outro seria a
definição de uma carga horária que ainda não existe nestes países; a terceira
contradição é a distribuição desigvual da renda para só posteriormetne ter uma
distribuição mais igual. Todos estes postulados colocados pelos teóricos da
teoria do desenvolvimento não são adequados para Hirshman porque os meios podem
ser desvirtuados antes de se chegar no fim.
Quando
Hirshman discorre sobre a teoria do desenvolvimento mais adequada para cada
país, ele dialoga e discorda com as teorias do crescimento encabeçadas por
Harrod Domar e principalmente por Keynes. O primeiro teórico dizia que aumentar
capital gera aumentos automáticos do produto e da produtividade. Hirshman
ressalva que antes do capital há barreiras a serem superadas e que o aumento do
capital não terá aumento do produto numa taxa proporcional.
Outro ponto
discutido neste diálogo é a formação e a definição da poupança. A poupança é um
determinante do investimento, mas pode fazer parte de uma das racionalidades
dessa economia. Pode acontecer de um aumento da renda não refletir num aumento
da poupança. Entre a renda e a poupança pode haver um consumo conspícuo como
uma racionalidade a ser superada. A formação de poupança também tem de superar
obstáculos de investimento.
Há dois tipos
de investimentos completivos ou comentares: (a) o induzido que multiplica a
renda e gera mais investimentos; e o (b) adicional que geram inovações.
Para Hirshman
não há uma parte ou setor mais importante para se iniciar um novo investimento.
A sequência mais desequilibradora e capaz de gerar mais investimentos induzidos
e adicionais é a melhor para a superação do atraso.
4.1.4)Perroux
Perroux, em
seu texto de 1955, se aproxima de Hirshman, mas com foco em manifestações
regionais.
O primeiro
conceito que ele lança é o de polo de
crescimento
, que representam concentrações de indústrias. Esses polos
começam a se concentrar a partir de uma indústria
motriz
. O problema desses países é o fato de não conseguir comunicação
entre os polos de crescimento.
A importância
dessas indústrias motrizes é que elas servem como motores e o encadeador da
economia. Além disso ela consegue engendrar um complexo industrial ou polo industrial ao desenvolver as demais
indústrias que surgem nesse polo. Hirshman observou que a melhor indústria
encadeadora na Europa era a de aço, mas essa não é uma regra para todos os
países e cada economia deve encontrar a sua por conta de suas particularidades.
Os estudos de
desenvolvimento têm uma forte formulação empirística. Assim, o nascimento da
sua ideia de polo de crescimento foi a partir da observação de polos de tipos
urbanos em París desenvolvidos ao redor do mercado consumidor; ou polo
observado por Perroux foi o do vale do Ruhr, por conta da matéria-prima e da
redução dos custos de beneficiamento desses materiais ao estarem próximos da
fonte. De maneira geral, os polos são instalados nos lugares onde os cursos são
reduzidos e são historicamente determinados.
Em países
subdesenvolvidos os polos mais ricos tendem a se concentrar enquanto os pobres
continuam sem comunicação e continuam pobres. Dessa forma, subdesenvolvimento
para Perroux é a característica de um países ter polos de crescimento sem
comunicação com os outros ou então países que não possuem indústrias motrizes.
Para o autor,
a ideia de fluxo circular de Schumpeter e o equilíbrio neoclássico não existe
nas economias subdesenvolvidas. Não há livre concorrência, os polos são
constituídos sob bases monopolísticas, por isso ele é contra o
desenvolvimento equilibrado.
Perroux se
aproxima de Hirshman e diz que as indústrias motrizes geram outras indústrias,
mas não adere à ideia de outros teóricos do desenvolvimento que dizem que é
preciso fazer um investimento planejado que considere todas as economias
externas possíveis.
O Estado é um
coordenador e aparece tanto do ponto de vista taxador quanto controlador dos
investimentos. Os polos vão se desenvolvendo até chegar a um ponto de ser a
grande força nacional e pode ser manipulado pelo Estado para competir com
outros estados. Esse é um fim errado e por isso é preciso cuidado do Estado
para evitar esse mal uso.
A indústria
motriz tem grande participação no produto nacional e com o passar o tempo
consegue aumentar as vendas das outras indústrias de forma que a venda delas
supere a sua própria. O crescimento da indústria se difunde para outras
indústrias, sempre há o surgimento, o aparecimento e o beneficiamento das
outras indústrias; As economias externas consideradas podem ser os de mudança
de custos, investimentos induzidos ou adicionais.
Desenvolvimento
é sempre desequilibrado nos aspectos regionais.
Aspectos do
desenvolvimento envolvem: a) a indústria motriz em si e o complexo industrial e
b) a forma como essa indpustria se relaciona com a economia nacional. É a
partir da indístria motriz que se gera desenvolvimento.
Características
das indústrias motrizes: i) moderna,
que cria modelos precoces de produção e organização; ii) sua taxa média de produto é maior que o produto
nacional
; iii) seu elevado crescimento passa por um declínio e é marcada
por uma fase de estagnação quando o
mercado já está suprido com sua produção.
A indústria
motriz contribui ao longo do tempo para que as taxas de lucro das empresas de
seu complexo sejam maiores que as suas. As hipóteses de equilíbrio geral não
são aplicadas à indústria motriz; não há ideia de maximização de lucros – o
lucro de uma firma não é em função de sua própria maximização de lucro, ela é
influenciada por outras empresas, sendo assim as decisões de lucros estão
relacionadas à todas as expectativas das outras indústrias do mesmo polo;
decisões de investimento são tomadas por grupos organizacionais; quanto ao
preço, a demanda da população não causa interferência pois essas empresas
observam a demanda e as taxas de lucro das outras empresas de seu polo.
A criação de
uma indústria motriz cria expectativas para outras indústrias e faz gerar novas
capacidades produtivas. Essas indústrias influenciam a economia nacional por
meio de suas inovações, como por exemplo pela substituição de tecnologias por
outras mais eficazes, tanto por substituição de capitais, mão de obra mais
especializada e etc. Essas substituições levam a economia a um novo patarmar em
termos de tecnologia.

Por ser uma
indústria motriz, sua capacidade de produção é exponencial.
BASTOS, Carlos P.
& BRITTO, Gustavo (2010). “Introdução à Economia do Subdesenvolvimento”.
In: AGARWALA, A. N. & SINGH, S. P. (orgs.) (1958). A economia do
subdesenvolvimento.
Rio de Janeiro, Contraponto; Centro Internacional Celso
Furtado, 2010.

ROSENSTEIN-RODAN
, Paul N. (1943) “Problemas de industrialização da Europa do Leste e do
Sudeste”.
In:
AGARWALA, A. N. & SINGH, S. P., op. cit.

NURKSE, Ragnar
(1951). “Problemas da formação de capitais em países
subdesenvolvidos”. Conferências I e III (“As dimensões do mercado e o
incentivo à inversão” e “Fontes internas da formação de capitais”). In Memórias
do desenvolvimento
, ano 1, n.1, jun/2007. Rio de Janeiro, Centro
Internacional Celso Furtado, 2007.

LEWIS, Arthur W.
(1954) “O desenvolvimento econômico com oferta ilimitada de mão-de-obra”. In: AGARWALA,
A. N. & SINGH, S. P., op. cit. Primeira parte.

HIRSCHMAN, Albert
O. “Desenvolvimento por efeitos em cadeia-uma abordagem generalizada”. In Estudos Cebrap, n. 18, out/nov/dez,
1976.

PERROUX, François
(1955) “O Conceito de Polos de Crescimento”. In: SCHWARTZMAN, Jacques.
Economia Regional – textos
escolhidos. Belo Horizonte, CEDEPLAR, 1977.

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