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Relação entre economia política e desenvolvimento na problemática da transição para o capitalismo – TROTSKY (1930)

TROTSKY, Leon (1930). História da Revolução Russa. 3a ed.
Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1978-1980.
 
3 vols. Vol. 1, pp. 23-25.

Capítulo 1: Peculiaridades do
Desenvolvimento da Rússia
A
agricultura – base de todo o desenvolvimento – progredia de maneira extensiva:
no Norte cortavam-se e queimavam-se florestas; no Sul desorganizavam-se as estepes
virgens. Tomava-se posse da natureza em extensão e não em profundidade. (p. 23)
Os
elementos camponeses mais dotados de iniciativa e mais empreendedores
transformavam-se, no lado oeste, em cidadãos, artífices, mercadores. NO leste,
certos elementos nativos, audaciosos, estabeleceram-se como comerciantes, porém
em maior número fizeram-se cossacos, guardas-fronteiras ou colonos. O processos
de diferenciação social, intenso no ocidente, retardava-se no oriente e se
difundia por expansão.
“O
Oriente impôs o jugo tártaro, que entrou como elemento importante na edificação
do Estado russo. O Ocidente era um inimigo ainda mais temível à Rússia, ao
mesmo tempo que um mestre.” (p. 24) Não se formou nos moldes orientais pela
pressão militar e econômica do ocidente.
“Um país
atrasado assimila as conquistas materiais e ideológicas dos países adiantados.
A teoria da repetição dos ciclos históricos baseia-se na observação dos ciclos
percorridos pelas velhas estruturas pré-capitalistas e, parcialmente, sobre as
primeiras experiências do desenvolvimento capitalista.”
“Na
contingência de ser rebocado pelos países adiantados, um país atrasado não se
conforma com a ordem de sucessão: o privilégio de uma situação historicamente
atrasada – e este privilégio existe – autoriza um povo ou, mais exatamente, o
fórça a assimilar todo o realizado, antes do prazo previsto, passando por uma de uma série de etapas
intermediárias. (…)
Se a Alemanha e os Estados Unidos ultrapassaram
economicamente a Inglaterra, isso se deveu exatamente ao atraso na evolução
capitalista daqueles dois países.” (p. 24)
“O
desenvolvimento de uma nação historicamente atrasada conduz, necessariamente, a
uma combinação original das diversas fases do processus histórico. A órbita descrita toma, em seu conjunto, um
caráter irregular, complexo e combinado.” (p. 25)
A
superação de etapas intermediárias depende das condições econômicas e culturais
do país. Na Rússia, esse efeito desigual e combinado reforçou o tzarismo ao
introduzir elementos da técnica bélica e manufatureira ocidentais.
“A
desigualdade do ritmo, que é a lei mais geral do processus histórico, evidencia-se com maior vigor e complexidade
nos destinos dos países atrasados. Sob o chicote das necessidades externas, a
vida retardatária vê-se na contingência de avançar aos saltos.” (p. 25)
“Desta
lei universal da desigualdade dos ritmos decorre outra lei que, por falta de
denominação apropriada, chamaremos de lei do desenvolvimento combinado,
que significa aproximação das diversas etapas, combinação das fases
diferenciadas, amálgama das formas arcaicas com as mais modernas” (p. 25)
O
artesanato não se separou da agricultura e conservou-se em pequenas indústrias
locais; as cidades eram centros de consumo e não de produção;  a insignificância da cidade colaborou para a
construção de um Estado tipo asiático e impediu uma reforma política e
religiosal, ou seja, o fim do feudalismo;
“O
mensurador essencial do nível econômico de uma nação é a produtividade do
trabalho, o qual, por sua vez, depende do peso específico da indústria na
economia geral do país.” (p. 28)
Dados
fornecidos por Trotski:
– Nas
vésperas da guerra, a renda per capta russa era de oito a dez vezes menor que a
dos EUA;
– 4/5 da
população obreira russa era camponesa; EUA tinha 1 camponês para 2,5 operários
industriais;
– Russia
possuía 400m de linhas férreas para cada 100km²; Alemanha 11,7km e
Áustria-Hungria 7km;
– Em
1914 as pequenas indústrias dos EUA representavam 35% do efetivo total de
operários industriais, na Rússia 17,8%;

Empresas médias e grandes (de 100 a mil operários) e gigantes(+ de mil)
empregavam 17,8% dos operários, a Rússia 41,4% no geral, em cidades específicas
era maior: Petrogrado 44,4% e Moscou 53,3%;
– Estrangeiros
possuíam +/- 40% de todos os capitais investidos na indústria leve russa, essa
porcentagem era maior nas indústrias dos “ramos principais” ;
“É
preciso notar que o operariado russo se formou não paulatinamente, no decurso
dos séculos, arrastando o enorme fardo do passado, como na Inglaterra, mas sim
aos saltos, por meio de transformações bruscas das situações, de ligações ,
acordos e, ainda, por meio de rupturas violentas com tudo o que, na véspera,
existia” (p. 29)

“Os
sovietes não são simplesmente um produto do atraso histórico da Rússia, mas sim
o resultado de um desenvolvimento combinado, e isto é comprovado pelo fato de o
proletariado do país mais industrializado do mundo, a Alemanha, não ter
encontrado, na época do impulso revolucionário de 1918 a 1919, outra forma de
organização senão a dos sovietes.” (p. 31)

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