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Discurso das mídias

CHARAUDEAU, Patrick. Discurso
das mídias
. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2012.
‘informação’ e ‘comunicação’ são noções que remetem a fenômenos
sociais; as mídias são um suporte organizacional que se apossa dessas noções
para integrá-las em suas diversas lógicas – econômica (fazer viver uma
empresa), tecnológica (estender a qualidade e a quantidade de sua difusão) e
simbólica (servir à democracia cidadã). É justamente neste ponto que se tornam
objeto de todas as atenções: do mundo político, que precisa delas para sua
própria ‘visibilidade social’ e as utiliza com desenvoltura (e mesmo com certa
dose de perversidade) para gerir o espaço público – apesar da desconfiança que
as mídias suscitam, por serem um poente produtor de imagens deformantes; do
mundo financeiro, que vê nas mídias uma fonte de lucro em razão de suas
ligações com a tecnologia e o marketing
em escala mundial; do mundo das ciências e tecnologia, que vê ai a ocasião de
aperfeiçoar os meios de transmissão dos sinais e desenvolver suas próprias
atividades de pesquisa; do mundo das ciências humanas e sociais, dentre as
quais , a Sociologia, que se interessa pelo impacto das mídias sobre a opinião
pública, a Semiologia […] a Fiolosofia e a Antropologia Social […], do
mundo educativo que se pergunta sobre o lugar que as mídias devem ocupar nas
instituições escolares e de formação profissional, de modo a formar um cidadão
consciente e crítico com relação às mensagens que os rodeiam; enfim, do próprio
mundo midiático. 15 – 16
As mídias não são uma instância
de poder.
Não dizemos que são estranhas aos diferentes jogos do poder social,
dizemos que não são uma ‘instância de poder’. O poder nunca depende de um único
indivíduo, mas da instância na qual se encontra o indivíduo e da qual ele tira
sua força. 18
As mídias manipulam tanto quanto
manipulam a si mesmas.
Para manipular, é preciso um agente da manupulação
que tenha um projeto e uma tática, mas é preciso também um manipulado. Como o
manipulador não tem interesse em declarar sua intenção, é somente através da
vítima do engodo que se pode concluir que existe uma manipulação. A questão,
então, é saber quem é o manipulado, fato que, para as mídias, remete à questão
de saber quem é o alvo da informação. (p. 18)
Se […] informar é transmitir um saber a quem não o possui, pode-se
dizer que a informação é tanto mais forte quanto maior é o grau de ignorância,
por parte do alvo, a respeito do saber que lhe é transmitido. Assim sendo, a
informação midiática está diante de uma contradição: se escolhe dirigir-se a um
alvo constituído pelo maior número de receptores possível, deve basear-se no
que se chama de ‘hipótese fraca’ sobre o grau de saber desse alvo e, logo,
considerar que ele é pouco esclarecido. 18
As mídias não transmitem o que
ocorre na realidade social
, elas impõem o que constroem do espaço público.
19
Se são um espelho, as mídias não são mais do que um espelho deformante,
ou mais ainda, são vários espelhos deformantes ao mesmo tempo, daqueles que se
encontram nos parques de diversões e que, mesmo deformando, mostram cada um à
sua maneira, um fragmento amplificado, simplificado, estereotipado do mundo.
(p. 20)
A informação é, numa definição empírica mínima, a transmissão de um
saber, com a ajuda de uma determinada linguagem, por alguém que o possui a
alguém que se presume não possuí-lo. (p. 33)
A informação é pura enunciação. Ela constrói saber e, como todo saber,
depende ao mesmo tempo do campo de conhecimentos que o circunscreve, da
situação de enunciação na qual se insere e do dispositivo no qual é posta em
funcionamento. (p. 36)
O crédito que se pode dar a uma informação depende tanto da posição social do informador, do papel que ele desempenha na situação de
troca, de sua representatividade para
com o grupo de que é porta-voz, quanto do  grau de engajamento que manifesta com
relação à informação transmitida. (p. 52)
Status do informador:
O informador tem notoriedade;
O informador é uma testemunha;
O informador é plural;
O informador é um organismo especializado;
A finalidade do contrato de comunicação midiática se acha numa tensão
entre duas visadas, que correspondem, cada uma delas, a uma lógica particular:
uma visada de fazer saber, ou visada
de informação propriamente dita, que tende a produzir um objeto de saber
segundo uma lógica cívica: informar o cidadão; uma visada de fazer sentir[AC1] ,
ou visada de captação, que tende a produzir um objeto de consumo segundo a
lógica comercial: captar as massas para sobreviver à concorrência. (CHARAUDEAU,
p. 86)
Não há captura da realidade empírica que não passe pelo filtro de um
ponto de vista particular, o qual constrói um objeto particular que é dado como
um fragmento do real. Sempre que tentamos dar conta da realidade empírica,
estamos às voltas com um real construído, e não com a própria realidade. (CHARAUDEAU,
p. 131)
Para que o acontecimento exista é preciso nomeá-lo. (p. 131)
Para que haja manipulação, é preciso alguém (ou uma instância) que
tenha a intenção de fazer crer a outro alguém (ou uma outra instância) alguma
coisa (que não é necessariamente verdadeira), para fazê-lo pensar (ou agir) num
sentido que traga proveito ao primeiro; além disso, é preciso que esse outro
entre no jogo sem que o perceba. […] as mídias manipulam de uma maneira que
nem sempre é proposital, ao se automanipularem, e, muitas vezes, são elas
próprias vítimas de manipulação de instâncias exteriores. (p. 252)
Se olharmos para o público que se informa, reconhecemos que ele é
corresponsável do processo de espetacularização do mundo que as mídias nos
propõem.
É preciso ter em mente que as mídias informam deformando, mas é preciso
destavar, para evitar fazer do jornalista um bode expiatório, que essa
deformação não é necessariamente proposital. Mais uma vez, é a máquina de
informar que está em causa, por ser ao mesmo tempo poderosa e frágil, agente
manipulador e paciente manipulado. (p. 253)
Uma vez selecionados os acontecimentos, as mídias relatam de acordo com
um roteiro dramatizante, que consiste
[…] em: (1) mostrar a desordem social com suas vítimas e seus perseguidores;
(2) apelar para a reparação do mal, interpelando os responsáveis por este
mundo; (3) anunciar a intervenção de um salvador, herói singular ou coletivo
com o qual cada um pode identificar-se. (p. 254)
As mídias podem sofrer pressões externas (a atualidade, o poder
político e a concorrência) e internar (interesse e afetividade do alvo e
engajamento da própria instância midiática.).


 [AC1]A
Veja vende o que acredita ou vende o que acredita que o público acredita?

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