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Linguagem e discurso: modos de organização

CHARAUDEAU, Patrick. Linguagem
e discurso: modos de organização
. 2 ed. São Paulo: Contexto, 2012.

O signo entre o
sentido de língua e o sentido de discurso
Expectativa múltipla
depende do ponto de vista dos atores envolvidos no diálogo
Atos de linguagem têm dupla dimensão:
11)     
Explícito:
é uma simbolização referencial que
são a produção de paráfrases estruturais que permitem que se realize na
linguagem um jogo de reconhecimento morfosemântico construtor de sentido que
remete à realidade que nos rodeia;
22)     
Implícito:
composto por paráfrases seriais que permitem 
que se efetue um jogo de remissões constantes a alguma coisa além do
enunciado explícito
, que se encontra antes e depois do ato de proferição da
fala, formam a Significação;

O fenômeno linguageiro, à luz das dimensões apontadas, têm
duplo movimento:
I)                   
Exocêntrico, movido por uma força centrífuga que
obriga todo ato de linguagem (e, portanto, todo signo) a se significar em uma
intertextualidade que é como um jogo de interpelações realizado entre os
signos, no âmbito de uma contextualização que ultrapassa – amplamente – seu
contexto explícito (27)
II)                 
Endocêntrico, força centrípeda que obriga o ato
de linguagem (e, logo, os signos que o compõem) a ter significado, ao mesmo
tempo, em um ato de designação da referência (no qual o signo se esgota em
função da troca) e em um ato de simbolização; nesse ato o signo se instala
dentro de uma rede de relações com outros signos.
Para o sujeito interpretante, interpretar é criar hipóteses
sobre: (i) o saber do sujeito enunciador; (ii) sobre seus pontos de vista em
relação aos seus enunciados; (iii) e também seus pontos de vista em relação ao
seu sujeito destinatário, lembrando que toda interpretação é uma suposição de
intenção. (31)
O sujeito interpretante está sempre criando hipóteses sobre
o saber do enunciador, como se fosse impensável que um indivíduo produzisse um
ato de linguagem que correspondesse exatamente à sua intenção, ou seja, um ato
de linguagem que fosse “transparente” (31)
Contrato de
comunicação
liga enunciador e receptor e os faz partilhar o mesmo ponto de
vista. Este contrato é determinado pelas Circunstâncias
do discurso
(vista como um conjunto de saberes compartilhados)
O ato da linguagem
como encenação

– assimetria na comunicação
O TU não é um simples receptor de mensagem, mas sim um
sujeito que constrói uma interpretação em função do ponto de vista que tem
sobre as circunstâncias de discurso e, portanto, sobre o EU (interpretar é
sempre instaurar um processo para apurar as intenções do EU). (44)
·        
TU-interpretante (TUi)
·        
TU-destinatário (TUd)
O ato de linguagem não deve ser concebido como um ato de comunicação
resultante da simples produção de uma mensagem que um Emissor envia a um
Receptor. Tal ato deve ser visto como um encontro dialético (encontro esse que
fundamenta a atividade metalinguística de elucidação dos sujeitos da linguagem)
entre dois processos:
– processo de Produção,
criado por um EU e dirigido a um TU-destinatário;
– processo de Interpretação,
criado por um TU’-interpretante, que constrói uma imagem EU’ do locutor. (44)
O Tud é o interlocutor fabricado pelo EU como destinatário ideal,
adequado ao seu ato de enunciação. O EU tem sobre ele um total domínio, já que
o coloca em um lugar onde supõe que sua intenção de fala será totalmente
transparente para TUd. 45
TUi age fora do ato de enunciação produzido por EU. Ele é responsável
pelo processo de interpretação que escapa ao EU.
TUd+Eu=relação de transparência
TUi+EU=relação de opacidade
Podemos dizer que o TUi tem por tarefa, em seu ato de interpretativo,
recuperar a imagem do TUd que o EU apresentou e, ao fazer isso, deve aceitar
(identificação) ou recusar (não identificação) o estatuto do TUd fabricado pelo
EU. 46
Discurso publicitário fabrica uma imagem de um TUd a quem falta algo;
·        
Eu-enunciador (EUe)
·        
Eu-comunicante (EUc)
O EUe é uma imagem de enunciador construída pelo sujeito produtor da
fala (EUc) e representa seu traço de intencionalidade nesse ato de Produção 48
EUe é apenas uma máscara de
discurso
usada por EUc. É por isso que EUc, consciente desse estado de
fato, pode jogar, com finalidades estratégicas, tanto o jogo da transparência
entre EUe e EUc quanto o da ocultação de EUc por EUe. 49
Ø 
Eue mascara a intencionalidade do EUc
Ø 
É EUe e não EUc que produz o que se pode chamar
de efeito de discurso
Para que um ato de linguagem
(e não um ato de fala sob sua única
forma configurada) seja percebido como performativo, é preciso que o EUe
descreva uma ação através de sua fala e que o TUi possa imaginar que o EUc
tenha um ‘poder’ efetivo com relação à ação descrita (assim, não se trata mais
de uma realidade, mas de uma estratégia). 50
EUc é o que nossa interpretação diz dele e depende do conhecimento que
TUi tem dele.
Delegação da fala: quando um
orador é reconhecido como um EUc falando em nome de um terceiro
EUe é sempre uma imagem de fala que oculta em maior ou menor grau o EUc
(51)
O ato de linguagem faz parte de um “projeto global de comunicação”
concebido por EUc. “o EUc deve organizar o que está disponível no conjunto de
suas competências, levando em conta a margem de liberdade e de restruções de
ordem relacional de que dispõe” 56
“Noção de contrato pressupõe
que os indivíduos pertencentes a um mesmo corpo de práticas sociais estejam
suscetíveis de chegar a ym acordo sobre as representações linguageiras dessas
práticas sociais” 56
Ø 
Pressupõe-se que o Tu tenha competência
linguageira de reconhecimento análoga à do EU
“Noção da estratégia repousa
na hipótese de que o suheito comunicante (EUc) concebe, organiza e encena suas
intenções de forma a produzir determinados efeitos
de persuasão ou de sedução – sobre o sujeito interpretante (TUi), para
leva-lo a se identificar – de modo consciente ou não – com o sueito destinatário
ideal (TUd) construído por EUc” 56
Recursos para essa estratégia:
Ø 
Fabricação de uma imagem de real baseada na verdade
exterior
Ø 
Fabricação de uma imagem de ficção baseado na identificação
entre sujeitos
“Comunicar é um ato que surge envolvido em uma dupla aposta.” 57
Identificação desse ato com uma aventura
por que está no campo do imprevisível.
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