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Resenha: CARNEIRO, R. Desenvolvimento em crise: a economia brasileira no último quarto do século XX. (cap 7)

CARNEIRO, R. Desenvolvimento em crise: a economia brasileira no último quarto do
século XX
. São Paulo: UNESP/IE-UNICAMP, Cap. 7, 2002.
Carneiro admite a globalização como a
resultante da interação da liberalização financeira nas economias domésticas
com a crescente mobilidade de capitais no plano internacional. Neste cenário a
globalização produtiva adquire um papel subordinado e a financeira
predominante.
O principal efeito da financeirização sobre a dinâmica capitalista é a
mudança no comportamento dos agentes econômicos. “A questão essencial é
que o aprofundamento das finanças de mercado modifica o comportamento dos
vários tipos de agentes, cuja lógica de investimento se transforma e adquire um
caráter especulativo” (Carneiro: 2002, p. 228).
A economia internacional nessa era de
globalização é marcada pela livre mobilidade de capitais, regime de taxas de
câmbio flutuantes e autonomia nas políticas econômicas domésticas. Além disso,
o sistema monetário-financeiro é, ainda, hierarquizado, tendo como núcleo o
dólar e a partir dele se formam as demais taxas de juros, dada a existência de
livre mobilidade de capitais. Há, neste sistema, três categorias de moedas: a
moeda reserva (dólar), moeda conversível (dos países centrais) e as moedas não
conversíveis (países periféricos). As taxas de juros no núcleo do sistema são
as menores por conta da grande segurança que ela transmite aos seus detentores,
além de ser a mais forte. Conforme se afasta do núcleo, as taxas de juros vão
aumentando, dada a segurança menor e as exigências dos proprietários dos
capitais para investir nessas moedas. Essa lógica torna desfavorável a formação
da taxa de juros dos países periféricos. Avaliados a partir de agências
de classificação de risco e dentro do sistema com livre mobilidade de capitais,
países periféricos não podem baixar suas taxas além das taxas de juros dos
países centrais por que podem provocar fuga de capitais e também podem perder
as entradas de recursos na economia. Sendo assim, “a autonomia da política
econômica doméstica, entendida como a capacidade de determinar as taxas de
juros, é restrita quando comparada à dos países do centro do sistema”
(Carneiro: 2002, p. 232)
Quebrar essa lógica só é possível com as
moedas conversíveis em países onde há um fluxo de capitais permanente. Taxas de
juros abaixo do mercado implica em desvalorização do câmbio por conta das
saídas de capitais. Contudo o câmbio tem um piso e a partir dele se torna
interessante o retorno destes capitais. Nos casos de moedas não conversíveis,
na margem desse sistema, a alternativa não existe por conta da inexistência do
piso da taxa de câmbio o que provoca uma desvalorização do câmbio sem limites e
os capitais não retornam para essas economias.
Uma característica do sistema
globalizado e aspecto crítico, segundo Carneiro, é o patamar elevado das taxas
de juros. A explicação disso é que as taxas de juros é o produto de convenções
e do grau de incerteza que agentes atribuem a essas convenções. Níveis elevados
de incerteza representam a preferências dos agentes pela liquidez e, portanto,
um prêmio ainda maior deve ser pago para eles abrirem mão dela. O autor aponta
como fatores que influenciam a preferência pela liquidez: o predomínio das
finanças de mercado e os fundamentos do sistema monetário internacional. Este é
explicado por conta da livre mobilidade de capitais e da taxa de câmbio
flutuante. Por conta dos riscos diferentes dos países e da flutuação da taxa de
câmbio, o nível de incerteza aumenta.
Outra característica ou implicação da
globalização é o fato de as transações brutas adquirirem um peso
desproporcional no período. Isso se dá por conta do descolamento dos fluxos de
capitais dos fluxos reais, de comércio e de investimento direto externo, mas
também pelo fato de a globalização ser uma “via de mão dupla” na qual
o recebimento e exportação de capitais são simultâneos e, mais uma vez, por
conta do câmbio flexíveis e taxas de juros flutuantes. “Ao permitir ganhos
de curto prazo na especulação com moedas e taxas de juros, esse sistema
exacerbou o peso dos fluxos de capitais igualmente especulativos de curto
prazo” (Carneiro: 2002, p. 237). A partir de 1985 aumentam os fluxos de
capitais com foco nos investimentos diretor e em portfólio, este último com
maior importância na escala hierárquica proposta por Turner, seguido pelo IDE,
empréstimos bancários e setor público. Ou seja, há uma predominância de fluxos
privados acima do bancário. O destaque para fluxos para portfólios é explicado
pela possibilidade de maior volatilidade dos fluxos oriundos de investidos
institucionais após os anos 1980. A composição desses portfólios ficaria mais
suscetível aos movimentos do câmbio e do juros, o que também explica as crises
localizadas na década de 1990.
Na década de 1980 ocorre uma retomada
dos fluxos de IDE, explicado pela cadeia de valor agregado distribuída por
diversos países e empresas e a diversidade geográfica dos mercados de destino
da produção, como aborda Dunning (1997). Esses IDEs ainda assumem a forma de
fusões e aquisições e alianças estratégicas em detrimento da forma greenfield, ou abertura de novas
empresas.
Nos anos 1990 as finanças de mercado se
aprofundam ainda mais, além da continuidade do crescimento de investidores
institucionais e a diversificação de seus portfólios. Nesta década os países
emergentes são reincorporados nos fluxos de capitais com predominância dos
fluxos privados. Os fatores de atração da periferia  são as reorientações
das políticas econômicas de longo e de curto prazo. As políticas econômicas
caminham para a liberalização dessas economias e, além disso, os altos
patamares de juros e, consequentemente os elevados rendimentos permanecem. A
liberalização desses mercados é considerada uma mudança essencial no cenário econômico
e outra característica dessa época é que mesmo que “embora as condições
macroeconômicas e de juros tenham sido inicialmente relevantes como fatores de
atração, o processo de fusões e aquisições, incluindo a privatização, adquire
subsequentemente maior peso” (Carneiro:  2002, p. 246).
Na continuação do capítulo o autor
também avalia as diferenças nas inserções das periferias latino americana e
asiáticas. De seus argumentos, aquele que mais se ressalta é o fato de as
articulações com as economias desenvolvidas. Na Ásia, Japão teve um papel
complementar nas relações com os Tigres Asiáticos (Hong-Kong, Cingapura, Taiwan
e Coreia do Sul) e com o Asean-4 (Indonésia, Malásia, Filipinas e Tailândia).
Na América Latina, contudo, essa relação não seguiu a lógica da
complementaridade, mas sim da competição.

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